5.5.09

Teimosia que voa...


A minha teimosia é uma arma pra te conquistar
Eu vou vencer pelo cansaço
Até você gostar de mim, mulher, mulher
Mulher graciosa, alcança a honra
Você alcançou, mulher
Minha amada, minha querida, minha formosa
Vem e me fala que eu sou o seu lírio
E você é minha rosa
Mostra-me teu rosto
Fazei-me ouvir a tua voz
Põe estrelas em meus olhos
Músicas em meus ouvidos
Põe alegria em meu corpo
Junto com amor de você
Mulher, mulher
La, la, la, la
Mulher, mulher
Por que você não pensa
E volta pra mim
Por que você não vem?

(Jorge Bem Jor – Minha teimosia é uma arma pra te conquistar)


O dia vai se entregando devagar. As primeiras luzes da praça começam a se acender. O friozinho das noites de outono começa a chegar. As famílias aos poucos começam a ir embora. Ela está ao meu lado sentada, os demais tomam café e discutem sobre as dificuldades encontradas no cotidiano do trabalho. Fico observando ela. Vejo que está com frio e empresto minha Hata/keffieh para ela se aquecer. Continuo ali sentado atento a escutar a conversa enquanto outra parte de mim pensa na teimosia.


Teimosia insistente é essa do catavento ficar girando.

Teimosia é essa do perfume das flores continuar impregnando na memoria.

Teimosia é essa de meu coração, de ficar querendo a menina bonita bordada de flor.

Teimosia é essa do brilho no teu olhar, brilho da paixão pela luta, pelos oprimidos.

Teimosia é essa do meu corpo querer o teu abraço. Da minha boca querer a tua.

Teimosia essa de eu continuar na teimosia de te querer.


Aos poucos as pessoas começam a ir embora. Vou também para minha casa, levando a teimosia e dando corpo a ela dentro do meu corpo. Mas ela não quer só corpo, ela quer ser vento para girar os cataventos. Deixo ela voar como passarinho na minha frente, sempre querendo ir antes, sempre querendo experimentar o que a razão diz não. Deixo ela livre, deixo ela voar. Que fazer com essa teimosia que insiste em ser vento? Deixo a livre para sentir. E vou tentando agüentar a vontade tão grande que me sufoca de libertar ela quando não posso.


Elisandro Rodrigues

(imagem do blog: http://tempodeternuras.blogspot.com)

Um comentário:

Cláudia disse...

Muito lindo!!!

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento