15.5.09

Bolinhas ao vento...


Íris: Então. Sei lá. Não sei o que te dizer me deu vontade de contar histórias contigo, agora...

Brisa: Conta então, começa a contar uma história para mim de um menino e uma menina. O menino que corre com o vento e a menina que tem um catavento na mão. Conta essa história?

Íris: Tá bem então, lá vai o menino, ele acha que pode voar e levar a menina prá dançar no céu.... ele corre, corre, corre e a menina vai atrás...o catavento da menina enlouquece de feliz e o vento se enche de delícias. O vestido da menina rodopia, cheio de bolinhas de todas as cores...e o menino pára de voar pra ver a menina e o vento dançar...dança menina! Dança! dança tua criança! Dança as bolinhas do teu vestido e as outras tantas que tem nas pontas do teu catavento!Dança essas bolinhas no ar, e pára na pontinha dos pés, que nem as bailarinas de Satolés, prá ver as bolinhas dançar! Feito bola de sabão a voar. E a menina para na pontinha dos pés com seu vestido liso (que as bolinhas escorregaram) de sem estampa- e a estampa toda voando, e o catavento todo girando de ver a delícia dançar.

Brisa: O menino sente a dança como o vento sente as bolinhas voando como bolas de sabão agarra a mão da menina e sai correndo a voar. O catavento a girar e a menina a dançar.

Íris: E o menino a ver essas coisas que só as crianças vêem.

Brisa: Coisas essas de belezura e boniteza que brota da alma e faz espoletiar.

Íris: Que pingam na terra que nem pingue-pongue e se voltam elas pintam todinho, todinho o coração da gente.

Brisa: Coração que fica feliz, pois a dor de ontem passa a ser alegria de hoje e assim como o vento brincalhão lá se vai o coração do menino teimosão...


Íris: Podia não ter tido um fim...

Brisa: Quem disse que tem um fim os dois ficam a se lambusar com pipoca doce e pudim...


Escrito numa tarde de sexta feira fria - de vento, sol com chuva- casamento de tartaruga por Ana Luiza e Elisandro.

Um comentário:

Iris Nabolontyj disse...

Coisa mais lindaaa!


Íris: Podia não ter tido um fim...

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento