6.5.09

Ele precisa começar.


Ele fechou todos os comunicadores instantâneos que tinha. Na verdade eram apenas dois – o MSN e o Google Talk. Fechou as janelas dos e-mails. Desligou o telefone. Pegou um copo que colocará a uma hora na geladeira – um copo de argila. Abriu uma garrafa de cachaça de Salinas. Encheu o copo até a boca. Bebeu o primeiro gole. Abriu uma página do Openoffice. E ficou ali parado vendo se alguma idéia vinha a sua cabeça.
Ele não podia mais perder tempo. Ele devia começar. Estava com 25 anos e ainda não fizera nada. Eram 22:22 e ele precisa começar. Sua vida toda, desde os 13 anos escreverá textos e contos. Mas ele precisava começar algo mais profundo. Escrever algo verdadeiro e não textos baseados em seu insignificante cotidiano.
Ele está com 25 anos. Eram 22:27. O copo estava pela metade e a tela ainda em branco. Ele precisava começar. Precisa escrever alguma coisa que fizesse sentido. Alguma coisa que tirasse ele do mundo em que vivia e o transpusesse para outro mundo. Com um pouco de raiva no corpo e nas mãos colocou-se a digitar freneticamente na tela branca, na sua cabeça uma história começava a tomar corpo.
Ele não podia mais perder tempo. Tem 25 anos e precisa começar. Senta-se sobre o sofá com o notebook no colo e começa a escrever. Ele precisa começar.
O copo está vazio, a garrafa pela metade. São 23:03. E ele precisa começar.

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Texto meramente inspirado na peça que fui assistir ontem dentro da Programação do 4º Festival Palco Giratório do SESC/RS. A peça se chama "Ele precisa começar" com texto/atuação/direção de Felipe Rocha e Direção de Alex Cassal.
Peça que vale a pena a ser assistida. Fica uma dica cultural, mais informações acessem o blog da peça: http://www.eleprecisacomecar.blogspot.com/
Foto retirada do Blog.

Elisandro Rodrigues

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento