15.8.09

Impermanência de criança...


Diz o menino para a menina:

- O meu querer é complicado de mais mas a tempestade sempre dá lugar ao sol, o vento sopra as nuvens carregadas de chuva. Assim posso voar mais alto que as nuvens e lá de cima escuto teu riso e vejo suas lágrimas molhando o travesseiro. Mas escuta menina, escuta essa poesia, escuta no pulsar do meu coração que bate por te ver aqui de cima das nuvens. Escuta menina, pois trata-se de agüentar cinco minutos e depois cinco minutos mais....


Se nem a vida dura a vida inteira
Por que o amor haveria de durar
Se sou aquilo que vejo nos teus olhos
Em teus olhos aprendi a enxergar
Naquele tempo e ainda hoje
Dentro da noite
Noite adentro amei a nossa falta mesmo de amar
Compreendendo o que duvido lembro que vivo
Vivo que amo em teus olhos aprendi a duvidar...
Se nem a vida dura a vida inteira por que o amor haveria de durar
Se sou aquilo que vejo nos teus olhos
Em teus olhos aprendi a enxergar.
Então se fez chegada a hora dos olhos teus saírem de casa
Ferido e vivido olhar
Talvez passasse em brancas nuvens o canto dos teus olhos sem véu
Muro com caco de vidro furando a barriga do céu.
Malandro é o parafuso que já nasce de cabelo repartido!

(Samba da Impermanência – Richard Serraria e Marcelo Cougo)

Um comentário:

Pablita disse...

"Se nem a vida dura a vida inteira, pq o amor haveria de durar?"

Ah, se eu tivesse lido isso ha exatos dois meses, teria mudado o rumo de muitas das minhas lágrimas.
Mas não reclamo, tudo na vida se faz útil.

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento