31.5.09

Crisálida (ou o que vi)


Vejo com os ouvidos a música cantada por ela. Fico como as borboletas antes de metamorfosearem, escutando a melodia suave e a voz doce me conduzindo para um lugar que eu não vi em seu olhar. Vou confiando na alvorada e na solidão, nos passos versos de um sonhador, das asas certas da lagarta em dor. Vou andando por ai exercitando a paciência nas brincadeiras de roda, nos aconchegos das tardes de domingo. Tenho pensando em fugir de tanta ordem e progresso mas me pego brincando com o gato Gusmão e o nariz de palhaço que ele joga para lá e para cá numa brincadeira inocente de felino ainda menino.

Não sei mais o que vejo no seu olhar. Penso as vezes que criei o que queria ver no seu olhar ouvindo-o e sentindo coisas por mim mesmo. Aquilo que não procurava aparece escrito nas paredes e nas calçadas por onde passo, está escrito claramente em letras vermelhas e rosas – aprender a ver, aprender a viver, aprender a se metamorfosear. Tudo parece claro como as noites mais escuras vejo o que não vi mas o que queria ver no deserto que encontrei aquilo que não procurava. Mas com paciência fujo do mundo nas asas de uma lagarta em dor brincando com o nariz de palhaço do Gusmão.

Elisandro Rodrigues

P.S: Fica a dica de uma banda muito legal, de onde fiz essa brincadeira com duas músicas – Crisálida e O que vi. O nome da Banda é Estramuros acessem: http://www.myspace.com/bandaextramuros

P.S: Foto tirada por Ana Rocha na rua Augusta, São Paulo - outubro de 2008 (http://annamaiarocha.blogspot.com/)

30.5.09

Frio sobre Porto Alegre

Venta lá fora. O dia está frio, faz 14º. O vento gelado entra para dentro de casa e aos poucos congela o antes era quente. Uma chuva fininha insiste em cair o dia todo completando a imagem de uma meia estação de outono, quase inverno. Lembro-me da Estética do Frio em que Vitor Ramil descreve em suas músicas e livros. Ele saberia descrever esse dia muito bem. Apanho meu Pala Velho. Largo a cuia de chimarrão e abro um vinho. Sinto o calor e o sabor da uva tomando conta do meu corpo. No meu rádio está tocando Kevin Johansen – ‘Luna sobre Porto Alegre’, coloco a garrafa e o copo de vinho no chão, me encolho sobre o sofá enrolando-me no meu Pala e aos poucos no embalo da música e do vento adormeço nesta tarde fria em Porto Alegre.

Elisandro Rodrigues


25.5.09

Gregor Samsa em mim


Querida amiga.

Te escrevo hoje pois ando estranho ultimamente. Estou vendo coisas. Sentindo coisas. Acho que estou me metamorfoseando. Ou ficando louco de vez. Na segunda-feira senti minhas pernas maiores do que são, andava desajeitado, elas não me obedeciam direito, não tinha controle delas. Andava esbarrando nas pessoas e me segurando nas paredes dos prédios e lojas. Na terça-feira o meu corpo entrou em recesso. Não obedecia nenhuma função que mandava. Demorei quase uma hora para percorrer cem metros. Todos passavam e ficavam me encarrando achando graça no meu quaseandar. Depois comecei a andar ligeiro, que minhas pernas ficaram doloridas por dois dias seguidos. Não sei o que me acontece. Na quarta-feira uma mosca ficou o dia todo na minha frente. Ela sentou por volta das 10 horas em cima da tela do meu computador e ali ficou parada. Tentei espantar ela várias vezes, mas ela voava e parava ali. Acabei por perder e paciência e a deixei. Depois do meio dia ela começou a falar comigo. Foi nesse momento que pensei que estava louco. Escutava uma vozinha bem baixinho, mas não sabia de onde vinha, pensei que eram os fones de ouvido que estavam ligados, mas não era. Era a maldita mosca falando comigo. Falando coisas banais e sem sentido. Tentei ignorar ela pelo resto do dia, mas ela falava sem parar. Fui embora mais cedo. Na quinta-feira dormi o dia todo, não acordei para ir ao trabalho e nem para almoçar. As sete horas da noite eu acordei, tomei um banho e estava saindo para o trabalho. Estranhei a luminosidade da noite, o frio, e a sensação de dia terminando. Mas mesmo assim fui para o trabalho. Cheguei no prédio e ele estava fechado, os guardas perguntaram se eu tinha esquecido algo. Foi quando percebi que era noite. Na sexta-feira resolvi fazer uma consulta com um psicologo, na verdade uma psicologa. Ela me disse que eu devia estar stressado com alguma coisa da minha vida, ou podia ser algum trauma mal resolvido. Não dei ouvidos a ela, não era aquilo. Sai para beber de noite, quem sabe uma meia duzia de cervejas não me faria bem. Tudo estava indo bem, até eu perceber um rapaz lindo que me olhava e me encarava. Fui falar com ele e senti um desejo de beija-lo. Acabei apenas conversando com ele. Me ofereceu um ácido. Aceitei. Quem sabe tomando uma coisa mais forte minha mente se ordenava. Acordei em casa no sábado a tarde sem saber como havia chegado lá. Agora estou aqui te escrevendo para contar que meu SER passa por uma metamorfose. Minha vida está se transformando. E tenho certeza disso pois estou te escrevendo numa pedra, sentado em cima de uma árvore apenas de cueca sendo que não sei quem você é.

Elisandro Rodrigues

21.5.09

Quando a menina passa...


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Quando a menina passa;
No céu nuvens e estrelas conversam;
A lua e o sol brilham juntos;
Na terra flores colorem o caminho;
Pirilampos voam em volta dos cabelos avermelhados da menina;
Dançam e cantam os passarinhos;
Quando a menina passa
Bolinhas de sabão se fazem coloridas;
Cataventos giram de alegria;
O vento sopra como brisa e faz o cabelo dela esvoaçar - e os papéis e pipas voarem;
Papéis se recriam em borboletas e se colorem com o perfume das flores;
Tudo voa;
A alma das pessoas fica leve - abre aspas e me leve nos meus versos que são seus;
Quando a menina passa alguma coisa acontece dentro de mim;
Eu a olho passar me encantando e cantando;
A espiar por entre livros que se fazem portas e janelas;
Vejo a boniteza do mundo quando a menina passa;
Depois que ela se vai
a brincadeira silenciosa toma conta do mundo.
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Elisandro Rodrigues
Imagem do querido ilustrador André Neves - http://confabulandoimagens.blogspot.com/

18.5.09

Meu pequeno grande nariz.


Hoje percebi suas mascaras. Mascaras que ignorava por querer-te. Cada dia aparecia outras. Em cada história do passado, em cada conversa sobre o presente. Um mosaico de mascaras uma sobre a outra. Não acreditei quando me dei conta de suas mascaras. Mas hoje tenho certeza que fechava meus olhos para elas. Abri demais meu coração. Magoei-o. Feridas que demoraram em sarar. Nos momentos em que se mostrava frágil, onde todas as suas mascara caiam lá estava eu com a única mascara que tinha- a menor e a maior – meu nariz vermelho, tirava de dentro de um bolso qualquer. A felicidade, a alegria, os sonhos utópicos de um Clown que vive na berlinda apareciam e contagiavam, loucuras eram criadas e realizadas. Permanecia muito tempo com Eusébio – o clown que te fazia sorrir, mas para que? Para te fazer colocar uma máscara em cima da outra fingindo ser quem não era, para me enganar e se enganar, pobre Eusébio que na sua ingenuidade acreditava nas mascaras bonitas que via pela frente. Assim como eu, Eusébio sente a dor no coração, quem sabe sofra mais, sensível do jeito que é. Mas uma coisa aprendemos: as mascaras um dia caem e por trás delas aparece a verdadeira face de quem as usa. Seguimos nosso caminho, com nossa pequena grande mascara de dúvidas, alegrias, certezas, dores, sonhos – o nariz do clown.

Elisandro Rodrigues
P.S: Em homenagem a Mario Benedetti que morreu dia 17/05/09 segue um poema de sua autoria.

Te quiero – Mario Benedetti

Tus manos son mi caricia
mis acordes cotidianos
te quiero porque tus manos
trabajan por la justicia

si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos

tus ojos son mi conjuro
contra la mala jornada
te quiero por tu mirada
que mira y siembra futuro

tu boca que es tuya y mía
tu boca no se equivoca
te quiero porque tu boca
sabe gritar rebeldía

si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos

y por tu rostro sincero
y tu paso vagabundo
y tu llanto por el mundo
porque sos pueblo te quiero

y porque amor no es aureola
ni cándida moraleja
y porque somos pareja
que sabe que no está sola

te quiero en mi paraíso
es decir que en mi país
la gente viva feliz
aunque no tenga permiso

si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

15.5.09

Bolinhas ao vento...


Íris: Então. Sei lá. Não sei o que te dizer me deu vontade de contar histórias contigo, agora...

Brisa: Conta então, começa a contar uma história para mim de um menino e uma menina. O menino que corre com o vento e a menina que tem um catavento na mão. Conta essa história?

Íris: Tá bem então, lá vai o menino, ele acha que pode voar e levar a menina prá dançar no céu.... ele corre, corre, corre e a menina vai atrás...o catavento da menina enlouquece de feliz e o vento se enche de delícias. O vestido da menina rodopia, cheio de bolinhas de todas as cores...e o menino pára de voar pra ver a menina e o vento dançar...dança menina! Dança! dança tua criança! Dança as bolinhas do teu vestido e as outras tantas que tem nas pontas do teu catavento!Dança essas bolinhas no ar, e pára na pontinha dos pés, que nem as bailarinas de Satolés, prá ver as bolinhas dançar! Feito bola de sabão a voar. E a menina para na pontinha dos pés com seu vestido liso (que as bolinhas escorregaram) de sem estampa- e a estampa toda voando, e o catavento todo girando de ver a delícia dançar.

Brisa: O menino sente a dança como o vento sente as bolinhas voando como bolas de sabão agarra a mão da menina e sai correndo a voar. O catavento a girar e a menina a dançar.

Íris: E o menino a ver essas coisas que só as crianças vêem.

Brisa: Coisas essas de belezura e boniteza que brota da alma e faz espoletiar.

Íris: Que pingam na terra que nem pingue-pongue e se voltam elas pintam todinho, todinho o coração da gente.

Brisa: Coração que fica feliz, pois a dor de ontem passa a ser alegria de hoje e assim como o vento brincalhão lá se vai o coração do menino teimosão...


Íris: Podia não ter tido um fim...

Brisa: Quem disse que tem um fim os dois ficam a se lambusar com pipoca doce e pudim...


Escrito numa tarde de sexta feira fria - de vento, sol com chuva- casamento de tartaruga por Ana Luiza e Elisandro.

14.5.09

Coração que doí na chuva.


Chove na cidade. O dia está cinza. Faz frio na cidade de Porto Alegre. Guto senta calor observando o frio do lado de fora de sua sala de trabalho. O ar condicionado está ligado no quente. Ele espera dar 17:30 para ir embora.

17:35 Guto vê a multidão saindo de seus trabalhos e tomando as ruas. Todos com guarda-chuvas abertos, de todos os tamanhos e cores. As pessoas caminham em direção a suas casas, escolas, faculdades. Guto apenas caminha. Seu guarda-chuva permanece fechado em sua mão. Caminha sentindo a chuva em seu corpo. A água escorre pelo seu rosto se misturando ao salgado das lágrimas que caem de seus olhos. Chora com as flores recém cortadas perdem o seu perfume.

Se sente como uma flor podada. Observa as pessoas sem guarda-chuva escondendo debaixo das marquises e dentro das lojas. Os mais apressados colocam sacolas e papeis sobre a cabeça e correm embaixo da chuva. Guto apenas caminha sentindo o corpo sendo lavado. Caminha devagar, as pessoas o olham espantadas – o que uma pessoa faz no meio da chuva caminhando devagar? Só pode ser um louco.

Mas ele não é louco. Apenas quer sentir a liberdade da chuva em seu corpo. Suas roupas molhadas grudando no corpo e gelando-o. As pessoas não vem seu coração. E seu coração doí. Guto pensa que a chuva pode aliviar um pouco essa dor. Dor de flor recém cortada. Dor de coração por amar demais. Ele caminha indo contra o fluxo. Passa pela Andradas e sobe em direção a Borges de Medeiros. Lentamente vai chegando onde quer chegar – em cima do viaduto da Borges – Viaduto Otávio Rocha.

No viaduto observa os carros e as pessoas. Está ensopado mas não dá bola. Olha para baixo e calcula a altura – não adiantaria de nada pular, a queda não seria grande e sua dor apenas aumentaria. Fica pensando por quê coração tem que doer. Não entende e não compreende. A chuva vai acalmando e a cidade começa a silenciar. A noite chega. Por trás das nuvens as estrelas estão brilhando. Quem sabe depois atrás da dor no seu coração possa estar a alegria e a felicidade.

São 20:30 e Guto vai para casa molhado e com uma flor na mão.


Elisandro Rodrigues

6.5.09

Ele precisa começar.


Ele fechou todos os comunicadores instantâneos que tinha. Na verdade eram apenas dois – o MSN e o Google Talk. Fechou as janelas dos e-mails. Desligou o telefone. Pegou um copo que colocará a uma hora na geladeira – um copo de argila. Abriu uma garrafa de cachaça de Salinas. Encheu o copo até a boca. Bebeu o primeiro gole. Abriu uma página do Openoffice. E ficou ali parado vendo se alguma idéia vinha a sua cabeça.
Ele não podia mais perder tempo. Ele devia começar. Estava com 25 anos e ainda não fizera nada. Eram 22:22 e ele precisa começar. Sua vida toda, desde os 13 anos escreverá textos e contos. Mas ele precisava começar algo mais profundo. Escrever algo verdadeiro e não textos baseados em seu insignificante cotidiano.
Ele está com 25 anos. Eram 22:27. O copo estava pela metade e a tela ainda em branco. Ele precisava começar. Precisa escrever alguma coisa que fizesse sentido. Alguma coisa que tirasse ele do mundo em que vivia e o transpusesse para outro mundo. Com um pouco de raiva no corpo e nas mãos colocou-se a digitar freneticamente na tela branca, na sua cabeça uma história começava a tomar corpo.
Ele não podia mais perder tempo. Tem 25 anos e precisa começar. Senta-se sobre o sofá com o notebook no colo e começa a escrever. Ele precisa começar.
O copo está vazio, a garrafa pela metade. São 23:03. E ele precisa começar.

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Texto meramente inspirado na peça que fui assistir ontem dentro da Programação do 4º Festival Palco Giratório do SESC/RS. A peça se chama "Ele precisa começar" com texto/atuação/direção de Felipe Rocha e Direção de Alex Cassal.
Peça que vale a pena a ser assistida. Fica uma dica cultural, mais informações acessem o blog da peça: http://www.eleprecisacomecar.blogspot.com/
Foto retirada do Blog.

Elisandro Rodrigues

5.5.09

Teimosia que voa...


A minha teimosia é uma arma pra te conquistar
Eu vou vencer pelo cansaço
Até você gostar de mim, mulher, mulher
Mulher graciosa, alcança a honra
Você alcançou, mulher
Minha amada, minha querida, minha formosa
Vem e me fala que eu sou o seu lírio
E você é minha rosa
Mostra-me teu rosto
Fazei-me ouvir a tua voz
Põe estrelas em meus olhos
Músicas em meus ouvidos
Põe alegria em meu corpo
Junto com amor de você
Mulher, mulher
La, la, la, la
Mulher, mulher
Por que você não pensa
E volta pra mim
Por que você não vem?

(Jorge Bem Jor – Minha teimosia é uma arma pra te conquistar)


O dia vai se entregando devagar. As primeiras luzes da praça começam a se acender. O friozinho das noites de outono começa a chegar. As famílias aos poucos começam a ir embora. Ela está ao meu lado sentada, os demais tomam café e discutem sobre as dificuldades encontradas no cotidiano do trabalho. Fico observando ela. Vejo que está com frio e empresto minha Hata/keffieh para ela se aquecer. Continuo ali sentado atento a escutar a conversa enquanto outra parte de mim pensa na teimosia.


Teimosia insistente é essa do catavento ficar girando.

Teimosia é essa do perfume das flores continuar impregnando na memoria.

Teimosia é essa de meu coração, de ficar querendo a menina bonita bordada de flor.

Teimosia é essa do brilho no teu olhar, brilho da paixão pela luta, pelos oprimidos.

Teimosia é essa do meu corpo querer o teu abraço. Da minha boca querer a tua.

Teimosia essa de eu continuar na teimosia de te querer.


Aos poucos as pessoas começam a ir embora. Vou também para minha casa, levando a teimosia e dando corpo a ela dentro do meu corpo. Mas ela não quer só corpo, ela quer ser vento para girar os cataventos. Deixo ela voar como passarinho na minha frente, sempre querendo ir antes, sempre querendo experimentar o que a razão diz não. Deixo ela livre, deixo ela voar. Que fazer com essa teimosia que insiste em ser vento? Deixo a livre para sentir. E vou tentando agüentar a vontade tão grande que me sufoca de libertar ela quando não posso.


Elisandro Rodrigues

(imagem do blog: http://tempodeternuras.blogspot.com)

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento