2.12.08

Sonhadores

Ele estava deitado em cima da árvore olhando a noite estrelada. Estava um céu escuro e as estrelas brilhavam fortes por entre as flores do Flamboyant. As flores vermelhas davam um toque diferente aquele céu escuro e azul. O vento levava seu cabelo para cima e para baixo, como um parafuso. Estava concentrado em seus pensamentos que nem virá a menina subindo a árvore e se aproximando dele. A menina sentou de seu lado e deu um oi com os olhos ele retribuiu com um sorriso e disse:

- Pensei que não vinha mais?

- Tive uns contratempos no caminho, mas agora estou aqui. O que vamos fazer hoje?

- Não sei, tô com saudades de você! Passei esta semana toda pensando em você. Qualquer coisa me lembrava seu sorriso e seus olhos.

- Qualquer coisa bonita e sensível me lembra você.

Os dois ficaram se olhando em silêncio por um tempo, suas mãos estavam entrelaçadas. O vento agora brincava com o cabelo dos dois. Ele comentou:

- Sabe, o amor é uma flor roxa que nasce nos corações dos trouxas.

- Então no meu nasceu um jardim – disse ela e ambos deram risada – quando penso em você nestes dias parece que não estou só – continuou – sabe o que podíamos fazer hoje?

- O que?

- Poderíamos ficar olhando o mundo juntos. ‘Gosto quando olho o mundo com você, e gosto mais do mundo quando posso olhar pra ele com você. Gosto ainda mais quando esquecemos onde estamos e olhando em volta escolhemos a mesma coisa pra olhar.’ É uma música sabia, do Paulinho Moska.

- Já escutei ela umas vezes, é tão bonita. Podíamos ficar aqui então olhando o mundo. Eu adoro ficar com você assim, tão pertinho! Dizendo isso abraçou-a.

Ficaram assim alguns minutos – abraçadosolhandoomundodecimadeumaárvore. Ela então disse:

- Não entendo esse nosso sentimento, é novo, diferente, não significa nada e mesmo assim dá sentido a tudo. Teu afeto me afetou...

- Até o mundo conspira a nosso favor, parafraseando Paulo Coelho – dizendo isso ele não se segurou e caíram na gargalhada novamente.

Ela tocou o rosto dele percorrendo-o e fazendo carinho com os dedos – Fico tão feliz ao te lado. O beijou suavemente colocando uma das mãos atrás da cabeça dele e aos poucos aquele beijo foi crescendo até o máximo e explodir em milhares de outros beijos – no rosto, nas mãos, nos braços no corpo inteiro........

Quando terminaram os corpos de ambos estavam cobertos de suor. Permaneciam em cima da árvore abraçados e deitados. Os galhos da árvore eram imensos de dia as crianças pulavam e corriam em cima deles como se brincassem no chão. Uma árvore magnífica na beleza de sua grandeza e de suas flores. A noite acolhia aqueles amantes.

Os pássaros cantavam nos galhos de cima anunciando um novo dia. O vento da noite havia se transformado em brisa da manhã. Os dois sentaram e ficaram olhando o sol nascer ao som dos passarinhos, ele abraçado nela e ela com um cata-vento em suas mãos. Mais um dia juntos havia acabado. A saudade começava a bater devagar no peito.

- Sabe de uma coisa – começou ele – Ninguém mais sonha nesse nosso mundo. Os sonhos e utopias estão sendo esquecidos ninguém mais ensina a sonhar e construir utopias, assim como ninguém mais ensina a fazer cata-ventos. Eu tenho sonhado todos os dias com você. Esta noite sonhei que você havia se Metamorfoseado em borboleta e voou ao meu encontro. No sonho você voava até me encontrar, eu estava sentado nesta árvore jogando bolinhas de sabão.

- Que sonho bonito! Lindo! Eu tenho tentado sonhar todos os dias também. Na maioria das vezes sonho com você. Sonho que você está correndo por campos floridos com seu cata-vento. Corre como o vento. No sonho você me encontra pega minha mão e me leva para seu mundo. Nos transformamos em vento, em estrelas ficando sempre juntinhos.

- Deve ser por isso que não permitem mais a gente sonhar. ‘Sonhos mudam o mundo. Sonhos recriam o mundo todas as noites. As coisas não precisam ter acontecido para serem verdadeiras. Contos e sonhos são as sombras de verdades que irão resistir quando os meros fatos forem poeira e cinzas, e esquecidos (Sandman)’.

- Sabe de uma coisa, TE ADORO.

Os dois continuaram ali até o sol nascer, quando o sol terminou de levantar para um novo dia eles se despediram com os olhos e com os corações.

- Te espero – disse ele.

- Logo volto – disse ela – é uma viajem de uma semana. Domingo estou de volta. Continua sonhando comigo.

- Continuo sim!

Os dois se beijaram desejando que a semana passasse rápida para se verem novamente.

Seu Olhar

Paulinho Moska

Composição: Paulinho Moska / Suely Mesquita

Gosto quando olho pra você
Gosto mais quando seu olho vem
Na direção do meu
Na direção do meu
Na direção do meu

Gosto ainda mais quando esquecemos
Onde estamos e olhando em volta escolhemos
A mesma coisa pra olhar
A mesma coisa pra olhar
A mesma coisa pra olhar

Gosto quando olho com você o mundo
E gosto mais do mundo quando posso olhar pra ele com você
Gosto mais do mundo quando posso olhar pra ele com você
Gosto mais do mundo quando posso olhar pra ele com você

Na direção do meu
Na direção do meu
A mesma coisa pra olhar
A mesma coisa pra olhar

Gosto quando olho com você o mundo
E gosto mais do mundo quando posso olhar pra ele com você
Gosto mais do mundo quando posso olhar pra ele com você
Gosto mais do mundo quando posso olhar pra ele com você

Gosto mais do mundo quando posso olhar pra ele...com você




Elisandro Rodrigues

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento