15.12.08

Aposto (a posto)


Ela vinha caminhando em minha direção com sua camiseta lilás escrita “Os opostos se distraem, os dispostos se atraem". Meu corpo todo sentia a emoção daquele momento. Ela subia as escadas como quem sob para o céu – sim uma estrela era ela, quem sabe subia para o céu e me levasse junto com ela. Minhas mãos suavam frio, minhas pernas tremiam. Ela estava se aproximando - nos pés uma sandália combinando com a cor da blusa. Meu corpo não reagia permanecia parado no alto das escadas. Ela se aproximou de mim subindo o último degrau me envolveu em um abraço e me disse baixinho ao pé do ouvido “Te gosto menino chato”. Meu corpo não resistiu aquela voz e a pressão que o corpo dela fazia se entregou sem desculpas ao prazer daquele momento. Sim estou disposto a você por inteiro e faço vigília todas as noites para te ver.

Elisandro Rodrigues

(Foto do trabalho de um amigo - Jairo "Emaranhados arames entortados" 51-93170248 - emaranhados@gmail.com).

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento