8.12.08

Declaro-vos nuvens


“Poderia se chamar nuvem
Pois muda de formato a cada instante...”

(Paulinho Moska – Que não devia se chamar amor)

- Eu vos declaro nuvem um para o outro.

Vocês podem estar achando isso estranho, vou explicar o fato. Me contaram este causo e disseram que foi verdadeiro, eu como um bom ouvinte repasso para vocês também. Segundo Seu João, um vagalume que me contou o sucedido e o presenciou em pessoa (nem tão pessoa assim), disse que dois jovens apaixonados decidiram se juntar, mas como ambos não gostavam do fato de serem chamados de casados resolveram-se que mudariam o nome para algo diferente, e assim procederam-se e averbaram que se chamariam nuvem.

Como não é permitido “casar”, se ajuntar, legalmente com um outro nome além de cônjuges – esposo e esposa, marido e mulher – não podiam pedir para um juiz ou um padre fazer o casamento. Chamaram um amigo deles, que tinha fama de ser profeta e emaranhador de corações, para proceder a cerimonia. E assim aconteceu, rápida, simples e com poucas testemunhas: o amigo emaranhador Tipak, Seu João – o vagalume, as estrelas e a Lua, o vento que passava desapercebido pelo recinto e uma fada que também apareceu do nada e deu de presente para ambos um desejo.

Mas como ia vos relatando Tipak vestido a rigor – de bermuda e camiseta – emaranhou mais um casal dizendo palavras de sonhos e utopias conjurando os deuses e deusas antigos e o firmamento na sua magnitude declarou-os o primeiro 'casal' nuvem. Os amantes apaixonados ficaram contentes com esta cerimonia e logo em seguida partiram para a lua de mel: que dizem as más línguas (e os pernilongos ouvintes) que foi um estrondo só de paixão e tesão- noite adentro de ardor e suor. Não tenho outros fatos para lhes relatar, mas foi um causo contado a mim e repasso a vocês do primeiro emaranhado de duas pessoas se tornando uma nuvem só. Seu João me relatou ainda que ambos se presentearam na hora da entrega das “alianças”, ele recebeu um patuá com um concha catada por ela na beira da praia e ela recebeu um emaranhado de arames em forma de fada e estrelas.

Achei este causo muito dos estranhos, mas como Seu João é grande amigo meu de tempos idos não contestei os fatos contados, achei esquisito, vai que esta moda pegue e todo mundo vire nuvem. Depois que o vagalume saio piscando pela noite olhei para a noite e fiquei observando as nuvens cortando meu fumo e fechando meu cigarro.

Elisandro Rodrigues

4 comentários:

Evandro Alves disse...

Oi, nem sabia que tinha um seguidor anônimo...haha
Ou eu te conheço e não me lembro?

Não importa, adorei o blog e a colocação(pelo menos pra mim) surreal desse texto.
Visitarei sempre.

Um abraço.

Evandro Alves disse...

Piegas, imagina...
Mas seja bem vindo... Elisandro, né?

Evandro Alves disse...

Nem tudo anda pra frente...
Assim descobrirá o que é nome de mim.
haha

Adoro o sul, tenho uma amiga aí e um dia ainda ei de morar aí.

Juliana Lemos disse...

deu até uma grande vontade de virar nuvem... mas passageira.

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento