15.10.08

Anúncio ou sobre duas histórias

Ele chegou 45 minutos antes do combinado. Estava ansioso. O lugar parecia abandonado e precisava de uma boa reforma. A pintura cai em tiras da parede, por trás se via o reboco dos tijolos que não existia mais. Na portaria lhe indicaram o quarto 209 e lhe deram uma chave. Caminhou em direção ao elevador o porteiro falou com uma voz seca que estava estragado e apontou para as escadas na direita do elevador. Tentou achar o interruptor nos primeiros passos mas logo desistiu e subiu as escadas no escuro. Quando entrou no corredor do segundo andar ao pisar no chão as tábuas começaram a ranger e fazer barulho, percebeu que algumas portas se abriram e espiaram para fora sem ser vistos. Caminhou até o fim do corredor onde encontrou o quarto 209. Os números estavam escrito com tinta na porta, percebia-se que havia sido mal pintada, o número quase se fechava em um oito.
O quarto precisava de uma limpeza. Havia pó e telhas de aranha em todos os cantos em que se olhava. Chegou perto da janela e bateu e abriu as cortinas um resquício de luz de final da tarde entrou pela janela. Na luz que entrava partículas de poeira dançavam. Olhou a cama passou as mãos no lençol. Pareciam limpos. Sentou-se na cama e sentiu ela ranger e fazer uns barulhos estranhos. Resolveu sentar em uma das duas cadeiras que se encontravam no quarto. Puxou ela para perto da janela e começou a pensar. Não conseguia entender o por que de estar naquele lugar.
Fazia quatro anos que estava solteiro. Seu ultimo relacionamento, e único, havia durado cerca de seis anos. A primeira e única mulher que ele amara havia o deixado para ir trabalhar em outro país. Ele pensou que seu relacionamento iria durar. Depois de um ano longe o distanciamento e a apatia dela começaram a aparecer. Logo não retornava telefonemas nem e-mails até que ele decidiu ir visitá-la. Se não tivesse ido teria sido melhor para ele. Não gostou do que viu quando chegou de surpresa na casa de sua mulher, ou melhor ex-mulher. Preferia nem lembrar.
Seus amigos disseram para ele sair nos primeiros meses. Arrumaram acompanhantes, amigas, festas. Mas ele não se motivou por nada. Foi aos poucos criando um mundo impenetrável excluindo a todos. Fechou-se por completo. Mas já faziam quatro anos e ele precisava daquilo. Num súbito impulso desceu até o telefone que ficava na esquina de sua casa. E faltando 37 minutos se encontrava ali parado olhando a poeira dançar sobre a janela.

Ela sempre tivera uma vida que sonhara. Seus pais davam de tudo, conclui o segundo grau com boas notas, ingressou em uma universidade particular em um curso onde poucos tem dinheiro para pagar. Era bonita, cobiçada por noventa por cento dos homens do colégio e da faculdade. Mas namorava a mesma pessoa fazia sete anos. Estava com 23, desde os 16 só conhecia os prazeres e as rotinas com ele. Não tinha o que reclamar de seu namorado. Algumas vezes escutava por suas amigas histórias dele que resolvia ignorar, achava melhor assim.
Mas chegando ao final da faculdade começou a pensar melhor em sua vida e descobriu que nunca fez nada para correr perigo ou viver a vida mais intensamente. Havia sim realizado diversas fantasias e sonhos: pular de paraquedas, bungee jump, corridas em alta velocidade, pilotar avião. Havia realizados muitos esportes radicais. Mas esta não era a adrenalina que procurava. Decidiu aos 23 anos que precisava fazer coisas diferentes. Não sabia o que fazer. Pensou em diversas loucuras mas nada era viável e com emoção e perigo suficientes para sua vida. Tinha que fazer algo por ela, que ela conquistasse e que lhe desse prazer. Foi neste momento que teve uma idéia que seria diferente de tudo que já vivera.
Estava empolgada, pensará que ninguém iria ligar, colocará o anuncio em poucos lugares, esperou duas semanas até que teve um primeiro contato. Combinou o local, o mais retirado possível do centro e longe de tudo. Havia uma vez passado por uma espelunca que parecia um hotel, deu o endereço de lá. Estava nervosa seria a primeira vez que faria um serviço daqueles. Faltava uma hora para o encontro e ela ainda estava se arrumando. Decidiu ir normal, não colocar muita maquiagem, nem exagerar no decote e nas roupas. Queria parecer sedutora e sensual ao mesmo tempo que normal como uma mulher de sua idade. Para modificar seu visual apenas comprara uma peruca preta que realçaria mais seus olhos verdes escondendo assim seus cabelos loiros.

Nos minutos seguintes deixou seu pensamento vagar livremente remoendo emoções e sentimentos e fazendo um balanço de sua vida. Aquela noite seria como um novo começo. Ele acreditava nisso e vinha se preparando a dois dias para este momento. Olhou no relógio novamente faltavam ainda 25 minutos. Olhou novamente para a janela do quarto e percebeu que do outro lado da rua tinha um café, ou algo parecido com um café. Fechou a porta do quarto e desceu as escadas escuras.

Faltando 39 minutos saio de sua casa para o encontro, chegaria ao local combinado 15 minutos antes. A noite se precipitava aos poucos quando chegou. Não teve coragem para entrar direto. Estacionou o caro do outro lado da rua em frente a um café que mais parecia um boteco dos anos 30. Decidiu que esperaria dentro do café e quem sabe veria quem seria a pessoa com quem iria se encontrar.

Pediu um café e sorveu os primeiros goles. O café era amargo e estava frio. Sentou perto da porta onde podia ver quem entrava e saia do hotel, ou daquilo que parecia um hotel. Ao seu lado sentou uma mulher morena de olhos verdes poucos minutos depois.

Não tinha muitos lugares livres, ao entrar ela olhou para as duas mesas no fundo perto de cinco senhores de fumavam e jogavam cartas e um assento no balcão perto da porta onde um homem estava sentado tomando café. Sentou ao lado dele e pediu um café.

Faltando 9 minutos para seu encontro ele resolveu que não voltaria mais para o quarto. Não sabia como ela a pessoa que ia encontra-lo. E se tudo fosse uma armação. E se outras pessoas viessem ou alguém que ele não gostasse. Estaria correndo muito perigo. Iria ficar ali sentado olhando as pessoas entrarem mas estava decidido que não voltaria mais.

Ela estava inquieta nunca imaginara tamanha loucura. Começou a roer as unhas mas logo parou iria tirar os esmaltes que comprará em sua ultima viajem a Londres. Pegou um cigarro de sua bolsa mas não achou seus isqueiro. Pediu para o homem do seu lado.

Acendeu o cigarro da moça. E aproveitou para fumar um também. O café estava muito ruim, deixou de lado e pediu uma cerveja. O tempo havia passado, eram 19 horas em ponto e ele ainda não virá ninguém entrar ou sair do hotel. Estava escuro ele teria que voltar de metro para casa. Não gostava de andar a noite numa região daquelas era perigoso. Terminou sua cerveja pagou a conta e saio.

Já passavam das 19 horas e ela decidiu ir embora. Era muita loucura mesmo o que estava fazendo. Quem em sã consciência iria fazer algo assim. Pagou o café. Quando estava saindo percebeu que o homem ao seu lado estava perguntando para o garçom onde era o ponto de ônibus mais perto. Entrou no carro olhou uma ultima vez para o hotel e começou a andar. Viu novamente o homem caminhando sozinho. Parou o carro e perguntou “Para onde está indo? Quer carona?”

Ele respondeu que ia para o centro e disse que aceitava uma carona se não fosse incomodo. Antes de entrar no carro deixou cair o papel um papel no chão.

Travesti Mayumi. Oral total. Anal para todos. Realizo todas as suas fantasias. Meiga. Carinhosa. Adoro de 4 venha fazer comigo. 55319852



Elisandro Rodrigues



Um comentário:

Anônimo disse...

Loucura!

Engraçado!

Insano!

BjoO ;)

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento