9.11.10

Quando chegas...


Ando querendo fugir, não aguento mais caminhar por essas ruas. Estou com saudades suas. Tenho ciumes das pessoas quando sento nos parques, nessa primavera, e observo os casais felizes, as crianças brincando correndo sem camisa, tenho ciume e inveja delas. Você poderia estar comigo.

Não sou obsecada, mas penso em você a todo o instante. Não sei se suporto mais esses dias de calor insuportável. Não suporto mais ficar com dor de cabeça, com esse mal estar. Não suporto ver sol brilhando forte no céu. Penso em desistir de tudo, largar mão desse mundo cão, mas...às vezes penso em me mudar para perto de você, onde possa lhe encontrar mais seguido.

Você sabe que quando chegas tudo melhora. Quando você me abraça tudo se transforma. Me sinto calma. Me sinto feliz. Curto esses poucos momentos contigo. Essa sensação unica de ter você comigo. Por vezes você vai embora rápido demais, chega num dia e no outro já está partindo. Amo quando permaneces por mais tempo, por dias, por semanas.

Presto atenção nos sinais, tento perceber quando o vento te anuncia. Sinto seu cheiro. Fico a esperar nas esquinas. Algumas vezes corro para perto do Mar pois sei que lá te vejo ao longe chegando. Pelo alto, voando. Quando não sei que vens logo te espero nesses bancos de praça. Algumas pessoas me acham louca. Mas louca são elas que não tem um amor verdadeiro. Loucas são elas que não sentem o seu prazer.

Como amo quando chega...amo sentir você em mim....quando penetra meu corpo...quando me faz sentir completa...Prefiro quando chegas feito amante, sem eu esperar, me pega de surpresa – por mais que sempre esteja lhe esperando – vens por outros lados, por outros cantos, por outros campos.

Meu corpo sente o arrepio do seu vento...fico molhada como a chuva. Minha ética se aproxima da sua Estética: Vento, Chuva, assim frio. Te Amo Estética do Frio. Amo você Tempo, quando ficas assim, quando chegas assim.


Elisandro Rodrigues

Em um dia de ventos e chuva

Um comentário:

Lidi disse...

Perfeito... Sentimentos traduzidos em palavras, de uma maneira gostosa, sutil... Parabéns!

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento