Fora de nós o mundo gira. Dentro de nós o mundo ventila.
Menino entrando no ônibus cara feliz, aparentando uns 12 anos, conversando com o motorista e cobrador, ao seu público se dirige mais alegre ainda “bala ou mandolate”.
Processo de democracia ou a grande ilusão de uma esperança que aparecera carregada pelo vento e a dúvida que permanece “o dia de amanhã será diferente”.
Pessoas caminhando no vai e vem da cidade. O termômetro marca 34º e 12:33. Conversas triviais sobre roupas expostas nas vitrines e o futebol do final de semana “e o Grêmio está no G4”.
A difícil dialética entre permanecer e sair fora. A tênue linha que separa um abismo do outro.
No palco artistas retratando a vida que se passa lá fora, no cotidiano das ruas da metrópole, suas danças e ações des[re]velam a pergunta “onde vivemos? Dentro ou fora?Ou foradentrodentrodota?”.
O amor que carrega na brisa o doce perfume de uma história do “começo ao fim” tatuando passantes na alma.
O cantor e sua trupe empolgam a plateia com sua arte e a delicadeza de um mundo paralelo onde nos canta “as horas vão passando e o dia vai chegando ao fim, mais um dia, outro dia, mais um dia pra viver, pra viver, pra viver....Andando sozinho pelas ruas da cidade...”
Uma Secretária de Saúde amplia o fingimento, se mostrando a maior atriz, mente para o povo que a escuta sobre sonhos e novos dias. O povo à escuta, mas suas bocas estão amordaçadas.
A pessoa rodeada por espíritos e vozes “eu to bem, ela não precisa de atendimento...não ela não pode sair para fora de casa existem muitos ladrões...fica quieta você não vai sair....”.
Será que a luta por tantas utopias e a bonitezas choverá no tempo da semeadura germinando as sementes de um novo possível?
As pessoas passam caminhando para seus dentros e eu encosto a cabela na janela do ônibus e me recolho no meu devir fora vendo passar o frágil emaranhado de teceturas.
Elisandro Rodrigues
(Texto escrito dentro do ônibus, logo após deixar a Sala Qorpo Santo, pensando nas muitas reflexões que a peça Fora de Nós, com direção de Kalisy Cabeda, proporciona. Para saber mais http://mostradad.blogspot.com)
Um comentário:
Que bom Elisandro! A intenção era mesmo de viajar de fora pra dentro...
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