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Ele caminhava ligeiro no meio da multidão, não notava os rostos das pessoas quando passava. Andava como quem não enxerga nada a sua frente. Mas o seu andar era um andar cansado, um andar de quem carrega o peso do mundo nos ombros. Caminhava desanimado. E em sua mente muitas coisas se passavam. De súbito parou e se olhou de cima, não acreditava no que via. Lá embaixo estava seu corpo parado. Estava flutuando sob seu próprio corpo.
Isso durou apenas um segundo. No segundo posterior já estava dentro de si mesmo, dentro de seu próprio corpo. Continuou ali parado, as pessoas esbarrando-se nele. Um estorvo no meio da multidão. Aos poucos foi dando-se conta do mundo ao seu redor, e como um estranho saio do meio das pessoas, sentou-se no banco de uma praça. Afrouxou a gravata. Abriu um pouco a camisa. E chorou. Chorou um choro sem sentido, mas com todo o sentido do mundo. Suas lagrimas caiam e molhavam o chão. Aos poucos criou-se uma poça de lágrimas próximos aos pés dele.
Parou de chorar, tirou os sapatos e começou a brincar com suas lágrimas e a terra úmida, criando e descriando objetos e seres com suas próprias lágrimas. O mundo parou de girar para ele. Começou a ver as pessoas, ver as árvores, o sol, o céu que o cercava. Sentiu o sol aquecer seu corpo. Deixou os sapatos, a gravata e saio caminhando lentamente no meio das pessoas. Parecia que passava desapercebido no meio da multidão que corria de um lado para o outro, como num formigueiro que tinha se desmanchado.
Ia caminhado lentamente sem direção, sem sentido e sem rumo. Mas sabendo onde queria chegar e o que queria alcançar. E assim caminhou sentindo o chão e a terra entre seus dedos, o vento batendo e despenteando seu cabelo, o doce aroma das flores de inicio de primavera, o sol aquecendo todo o corpo...
Acordou de súbito. Não passava de um sonho. Levantou da cama, escolheu a gravata mais bonita calçou os calçados e saio para a rua.
“Entre o Pedestal Noturno e o matinal. Entre a morte vermelha e o desejo radiante, sem um único som de triunfo ou alerta surge o grande sentinela na Ponte de Fogo. Ó alma transitória, que adorna com sonhos teu pensamento, abandona a coroa de louros, remove as cordas da lira: as rodas do tempo estão girando, girando, girando, a corrente vagarosa flui profunda e não se cansa. Os Deuses estão sobre sua ponte, sussurrando mentiras e amor, zombaram de tua passagem pelo rio sombrio, cujas correntezas incansáveis levarão a ti, rei dos sonhos, - Destronado e eternamente inacessível – para onde os reis sonharam outrora embranquecem em lares de frio monumental.” (James Elroy Flecker – 1884/1915)
Elisandro Rodrigues
2008
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