22.5.08

Sonhando com borboletas
Ah!
Se o mundo inteiro
Me pudesse ouvir
Tenho muito prá contar
Dizer que aprendi...
Dizer que me apaixono todo dia, isso sim poderia gritar a todos os cantos. Mas estas paixões acontecem sempre por alguém distante, alguém impossível de se ter, pelo menos para um simples abraço. Quando achamos alguém para compartilhar sonhos sempre é alguém distante da carícia da mão. Tem gente que nem sabe o que é isso: compartilhar, sonhos e carícias.
Eu acredito que é possível achar pessoas assim, e por que acredito essas pessoas existem, mas existem longe, longe dos passos. O mundo é complicado, as pessoas são complicadas, por mim juntava todos e tudo numa coisa só. Separava a dor da alegria... “Separô! Toda a minha correria! Separô diante de mim quando a tristeza era parte do dia. Sepraô diante minha palavra e se fez poesia. Separô pra pensar no que a gente faria, se não houvesse a poesia...”
Juntava tudo e todos, juntava o tempo fazendo dele um vôo invisível, fazendo um circo com as horas para brincar e se divertir. Dos sonhos faria flores para enfeitar os cabelos das pessoas, e ficar mais perto do coração, das carícias faria o vento para tocar os rostos e dar mais prazer à vida.
Isso me lembra de uma passagem, quando uma Raposa fala a um Jovem Monge depois de ter salvo a vida dele e estar perdida no mundo dos sonhos (no livro Caçadores de Sonhos – Sandman, de Neil Gaiman e Yoshitaka Amano): “ ‘Tive muito medo, pois estava perdida nesta caixa e não conseguia encontrar o caminho de volta. Eu perdi o caminho que me levaria de volta ao meu corpo. Fiquei triste e apavorada, mas também orgulhosa, pois havia salvo a sua vida.’ ‘Por que fez isso por mim?’, perguntou o monge, embora ele já soubesse que compreendia as razões dela. O espírito da raposa sorriu. ‘Por que você me procurou?’, ela perguntou. ‘Por que veio até aqui?’. ‘Porque eu me importo com você’ ele disse. ”
Me sinto feliz novamente, por saber que pelo menos no mundo dos sonhos posso encontrar pessoas que se importam, que abraçam, que compartilham e que vivem sonhos juntos. “Sonho parece verdade, quando a gente esquece de acordar...”
Elisandro Rodrigues
Para uma menina que seu nome significa “borboleta” e que voa, que voa nos finais de tarde para me encontrar.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Ela acreditava em Anjos...
e porque acreditava eles existiam..."

Adoro-te,
Continue!
Assim de longe,vou te acompanhando!
Bjo

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento