26.5.08

Foto Beatriz Rodrigues


Quando eu era criança, não entendia por quê às vezes não tinhamos o que comer. Não entendia a falta de dinheiro para comprar comida, e o porque comer feijão com laranja, inventando um prato para saciar a fome. Não entendia as brigas e a dificuldade que minha mãe e minha família tinham. Era criança, a inocência ainda se fazia presente, o brincar era mais importante do que o preocupar-se com perguntas que ainda não me faziam sentido.

Os primeiros questionamentos vieram para tentar compreender o amor, santa inocência a de criança, tentar compeender o amor. Mais alguns anos depois voltou a dificuldade financeira, e o trabalho a solução para arumar dinheiro. Vender picole. Pouco dinheiro mas a compreenção da necessidade de trabalhar. Mas ainda não compreendia por que trabalahr e ganhar pouco dinheiro e viver na pobreza quando via pessoas com belas casas, belos carros, belas roupas.

O entendimento do mundo veio bem mais tarde quando entrei no seminário e as perguntas começaram a fazer sentido quando descobri que existe dois mundos, e as vezes mais, os oprimidos e os opressores. Os que detem os meios de produção e quem trabalha nele.

Mas depois de tanto tempo, desde as primeiras necessidades e questionamentos, continuo ainda sem entender. Por que vivemos sempre sem dinheiro no bolso? Por que não ganhamos nem para sobreviver? Por vivemos sempre na miséria? Por ser artista? Por pensar nos outros? Ou por não entender mesmo como funciona este mundo.

Continuo com minha santa inocência sem compreender bustica de nada, so entendendo que viver sem grana é foda. Eita mundo cão.


"Eu não sei na verdade quem eu sou,

Já tentei calcular o meu valor,

E sempre encontro o sorriso e o meu paraíso é onde estou...

Por que a gente é desse jeito

criando conceito pra tudo que restou?"


Elisandro Rodrigues

Tentando calcular o meu valor para pagar as contas atrasadas...

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento