24.6.08



Às vezes nos bate a saudade. Quando ela chega em nossa porta logo nos lembramos das pessoas especiais. O por quê da saudade não sabemos, mas sabemos que esta pessoa especial vai entender e estender os braços para o abraço gostoso e carinhoso. E antes que o tempo acabe, antes que a saudade acabe que venha o abraço....

Para comemorar o lançamento do II Ato do Teatro Mágico
(A primeira semana - O Teatro Mágico)

Antes que o tempo a clave de Fá Dos e Si Lá Sols
Antes da noite, uma tarde
Pra cada um de nós
Antes do barco, a chuva
Antes da roda, o frio
Antes do vinha, a uva
A fruta que não caiu
Fez desta terra um cenário
Pras peças que nos pregaram
Fez bico de pena e diário pra escrevermos a regra e a exceção
Criou o perdão e o pecado
Criou a dor e o prazer
Criamos o certo e o errado e o orgulho pra nos esconder do que prevalece em nós
Antes que o tempo a clave
Sustenidos e bemois
Antes do inteiro, a metade
Uma outra parte de nós
Antes do voo, o tombo
Luta pra não chorar
Antes tarde do que nunca
Pra nunca mais demorar
Antes do homem, o medo
Antes do medo, o amor
Antes do amor, a dúvida
Pois nem Deus sabe quem e o que prevalece em nós
Exilhos calados quimeras que exalamos sós
E tudo que eu criar pra mim
Vai me abraçar de novo
Semana que vem
E tudo que eu criar pra mim
Vai me abraçar de novo e vai me negar também
Antes que o tempo acabe!

16.6.08

Aonde fica nossa liberdade!
Fico pasmado diante de muitas noticias que vemos na mídia hoje. Fico intrigado pela falta de humanização em nossa sociedade. E sobretudo fico puto da vida quando vejo que a liberdade artistica, a liberdade de se manifestar, a liberdade de gritar e denunciar o que acontece na sociedade é brutalmente silenciada pelo poder e reprimida. Trago a vocês um texto de um companheiro, que juntamente com outras mulheres e homens foram presos durante uma manifestação pacífica e artistica contra o aumento dos preços e o sistema.

A ação da polícia durante a Jornada de Lutas dos Trabalhadores do Campo e da Cidade, reprimindo sua marcha por Porto Alegre , escancarou o papel do estado em uma sociedade de classes. Os dois principais objetivos da polícia: dispersar o povo para que este não chegue a incomodar os donos do poder, e dar exemplos à sociedade do que acontece com aqueles que ousam contestar a ordem burguesa.
Foi por isso que, próximo das 10h da manhã, ao entrar pacificamente no estacionamento da Wal Mart/Nacional, onde se realizaria um ato simbólico, o povo organizado foi surpreendido por uma polícia preparada para destroçar a manifestação, sem conversas. Chegou espremendo o povo nas grades, espancando a cacetadas e pontapés mulheres e jovens. Cinco policiais derrubaram um membro da negociação e o espaçaram no chão até perfurar seu pulmão. Pistolas em punho. Tiros e bombas desesperavam senhoras e crianças que vinham prontas para uma bonita manifestação, cheia de simbolismos em defesa de um projeto popular para o Brasil.Após dispersar barbaramente o povo organizado, vieram para garantir seus troféus políticos. Prenderam o senhor que havia sido espancado por cinco policiais no chão e sua esposa, após arrocha-la com cacetadas nas costas, enquanto, desesperada, tentava cuidar da saúde de seu marido. Em seguida, cercaram o carro-de-som, colocando uma pistola na cabeça do motorista, para arrancar a ele e seu auxiliar de dentro da gabine. Mais dois presos. Os próximos foram os membros da equipe de animação: gaiteiro, cantora, dois violeiros e dois animadores. Todas prisões políticas, arbitrá rias e violentamente efetivadas, sem acusações em bases legais.Três membros da equipe de animação foram arrancados a força de cima do carro-de-som. Antes que estes chegassem às escadas, gritava um dos policiais de choque que torcia seus cabelos e braços: “não me custa nada te atirar daqui de cima”. Enquanto isso, a advogada do movimento apresentava sua carteira da OAB ao comando, tentando evitar tais agressões. Apenas ouve-se o comandante gritar para a advogada: “cala essa boca filha da puta”. E também a advogada foi por eles algemada.Um dos animadores presos teve de ficar de costas com o rosto apertado no carro-de-som, enquanto sua mochila era revistada. Durante isso, um dos policiais falou a outro: “vamos *** ele”, utilizando uma gíria policial que significa inserir nos materiais do preso algo que possa incrimina-lo. Tendo o rapaz ouvido i sso e chamado a atenção da imprensa, os policiais mandaram-no calar e forçaram-no a sentar na calçada. Em seguida, ele foi brutalmente algemado, tendo seu braço esquerdo torcido ao extremo de quase quebrar-se. Enquanto ele era arrastado por dois policiais para um camburão, os policiais lhe gritavam: “fala agora filha da puta, fala agora! Tu tá em todas, né?! Nós queria te grampear a tempo! Fala agora filha da puta”.Dentro do camburão, já se encontravam os demais 10 companheiros presos, todos algemados. Um deles, inclusive, era o senhor com o pulmão perfurado, a esta altura, já cuspindo sangue, branco como papel. Sua esposa, algemada na outra ponta do camburão, apenas chorava.Após muito tempo perdido com identificações dos “criminosos”, o senhor mais ferido foi levado ao hospital, onde teve de passar 3 dias imobilizado e com um dreno retiran do-lhe 2 baldes de sangue dos pulmões.Levados com sirenes ligadas até o palácio da polícia, os trabalhadores foram mantidos algemados em uma sala toda gradeada. Durante toda a tarde, tiveram de identificar-se diversas vezes, ouvindo inúmeras ironias dos policiais. Para além das diversas referências a que “baderneiros tem mesmo é que apanhar e ser presos”, surpreendeu a declaração de uma policial que defendia abertamente que “precisamos mesmo é que os militares venham colocar ordem nessa história” (!)Aqueles presos que precisavam, por exemplo, ir ao banheiro, eram obrigados a esperar mais de hora pela boa vontade dos carcereiros, que ainda obrigavam aqueles que estavam algemados juntos a ir nestas mesmas condições ao banheiro.Diversos policiais e funcionários manifestaram solidariedade ao s presos políticos, mas se mostravam acossados pela amarras do estado burguês.A realidade é que os presos apenas não foram mais maltratados, porque a polícia e o governo se sentiram obrigados a respeitar o poder do povo organizado nos movimentos sociais. Eles sabem que aprendemos a transformar desrespeitos em luta popular.Graças a isso, e a falta de provas que justificassem a solicitação do Coroné Mendes de que os trabalhadores fossem presos por crimes “em flagrante”, foi estabelecido um acordo com o delegado de que os presos seriam mantidos no palácio da polícia, até a decisão da juíza sobre a correção ou não de eles serem despachados para penitenciárias comuns.Entretanto, próximo das 22h, quando os advogados tiveram de ausentar-se para audiência com a Juíza, o delegado recebeu ordens do núcleo do governo, de levar a força os trabalhadores para presídios comuns. Durante minutos de muita tensão, toda a negociação estabelecida anteriormente, que parecia sólida, se desmanchava no ar. Todos seus pertences tiveram de ser deixados para traz em meio a correria. Homens e mulheres foram separados, colocados dentro de camburões que assemelhavam-se as caixinhas minúsculas nas quais eram trazidos os trabalhadores africanos seqüestrado na África para a escravidão no Brasil. Carros gradeados como se carregassem animais ferozes. Novamente com sirenes ligadas, os “criminosos” foram levados com muito alarde a sua nova senzala.Os homens foram deixados no Presídio Central, e as mulheres levadas para o presídio feminino.Na penitenciária masculina, o motorista da civil que deixou os homens ainda lhes disse: “eu sinceramente sinto muito por isso . Vocês estão certos. Mas está é a ordem, né?!”Já dentro do presídio, os trabalhadores foram postos com os rostos contra uma parede, ao lado de dois jovens negros, de chinelos de dedo e pés sujos de cal, algemados. Aos gritos e pauladas na parede, os dois foram levados primeiro. Depois de identificados, os presos políticos foram, dois a dois, de braços cruzados a frente do corpo, para a revista. O ambiente era digno de filmes de horror. Paredes podres, caindo sozinhas, tudo muito gelado e úmido. Celas muito protegidas se apresentavam desde o início do corredor.Durante as revista, os homens eram obrigados a despir-se completamente, retirar todos seus pertences, inclusive alianças ou crucifixos. Nus, eram obrigados a agachar-se algumas vezes em frente aos policiais. A dureza nas ordens dadas pelos agentes já indicava quem mandaria lá dentro e quem de veria apenas obedecer calado. A humilhação e o rebaixamento humano são as marcas daquele espaço.Os dois primeiros presos políticos a ser encarcerados foram postos em uma cela comum com outros homens presos naquela noite. Apenas dois entre os 20 presos aparentava ter mais de 35 anos. A maioria negros. Todos, absolutamente todos, com rostos sofridos de trabalhadores pobres. A maioria, preso por transporte de drogas.Um dos presos políticos era um sem-terra. Conhecia outros dois presos, vizinhos na vila onde morara antes de acampar, estavam detidos por porte de drogas. Os três com rostos marcados pela dureza da luta pela sobrevivência. Comentava o sem-terra e seu companheiro que haviam sido presos durante manifestação pacífica contra o preço dos alimentos e por “bóia para as famílias”. Lembrava um deles “nós éramos apenas da equipe de animação, nem pudemos usar as mãos para defender os companheiros, pois fomos cercados e presos antes”. Todos os presos olhavam com certa admiração, alguns balançando a cabeça em apoio aos lutadores, enquanto outros chegavam a expressar que estávamos corretos e que assim deveria ser. Um deles ainda dizia: “é, o povo não sabe a força que tem”. Crescia uma certa identidade.Em seguida, porém, os dois presos políticos foram retirados da cela, e colocados em uma cela ao lado, junto com os demais companheiros presos.Ambas as celas eram cubículos, escuros, úmidos e muito frios, onde misturavam-se restos de pães, banana, urina e fezes, onde, por vezes, passavam ratazanas em busca de alimentos. Ali, sentados, os presos políticos passaram boa parte da noite. Fantasmas começavam a rondar suas mentes.Eles foram ainda trocados de cela uma três vezes durante a noite, passando também por identificações, fotografias, etc. Depois de feitos os arquivos policiais sobre eles, chegou uma informação de que “o comandante queria ter em mãos seus arquivos”.O mais duro durante a noite, porém, foi suportar o frio lancinante, que congelava seus corpos tinitantes, sentados em uma bancada gelada, durante toda a noite. Dormir um pouco era um sonho impossível.Seria muito difícil manter a lucidez mental se aquelas condições materiais se mantivessem por mais tempo. Apenas a confiança na vitória infalível da luta popular e no sentido de missão que companheiros presos políticos cumprem na luta de classes, mantinha sua moral de pé. De fato, eram justamente aqueles com mais formação política os que conseguiam manter a lucidez militante e animar seus camaradas até o fim.Sabidamente, a polícia e o estado seguiam com medo do poder do povo organizado. Por isso, tratou os presos políticos com relativa condescendência. Os horrores vividos foram mínimos perto do que passam os demais trabalhadores pobres presos por todo o estado, pelas mais diferentes desculpas. Quase todos, porém, jovens, em maioria negros.Próximo das 9h os presos políticos foram chamados à identificação e, após algum período em suspenso, novamente com os rostos contra a parede do corredor, foram anunciados livres. Antes, porém, foram obrigados a caminhar pelo pátio do presídio, de braços cruzados frente ao corpo, em fila, ouvindo ordens aos berros dos policiais, que pareciam querer deixar marcas ainda na saída dos presos.E eles tinham razão. Muitas marcas foram deixadas. Todas e las, porém, mesmo as mais lancinantes, são e serão transformadas em energia revolucionária. Pois agora, eles construíram mais algumas dezenas de inimigos mortais da ordem burguesa, ensinaram-nos mais um espaço decisivo para a organização e a luta de classes e nos firmaram decisivamente a convicção de que a justiça só será feita quando, quem estiver algemado, dentro daquelas senzalas, forem os que hoje se acham donos do poder.
Nem prisão ou morte
deterão a nossa ação,
de lutar pela Pátria e a Revolução!
Pátria Livre! Venceremos!

12.6.08

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Um pouco mais de cultura
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Com a pá da palavra tirar
a palha da palavra atrapalhada,
o mar da palavra amarelo,
o azul da palavra azulejo.
Com a pá da palavra tirar
o amor da palavra namorada
e ver que sobra nada.

- mariopirata
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Feliz dia dos namorados!
E como diz a canção:
"Quem tem um bem, agradeça o bem que tem, quem não tem, peça a deus que vem..."
Um pouco de cultura as vezes é bom, acredito bastante nisso, sendo assim tento ir ao teatro e ao cinema frequentemente. Hoje, dia dos namorados, fui no cinema, sozinho. É sozinho, gosto de ir no cinema sozinho, algumas pessoas acham estranho, mas se vamos assistir um filme ele é algo para você, está certo que depois pode-se fazer os comentários com outras pessoas, mas no momento que estás vendo o filme, é uma experiência de quem está assistindo. Fui ver "Sonho de Cassandra" do Woody Allen, abaixo segue uma entrevista dele. O filme fala do ser humano com uma outra faceta, como está no site omelete (http://www.omelete.com.br/cine/100012374/O_Sonho_de_Cassandra_.aspx) "...Allen pesa demais na mão, principalmente quando abruptamente acaba tudo o que vinha construindo nos últimos 100 minutos. É como acordar de repente de um sonho que estava incomodando. Um alívio, mas que deixa memórias difíceis de apagar da mente e que por isso mesmo não deve agradar a todos."
Então assistam que vale a pena.

30/04/2008 - 08h42

Woody Allen lança "O Sonho de Cassandra"; leia entrevista

da Folha de S.Paulo

Aos 72, Woody Allen lança "O Sonho de Cassandra", que estréia hoje no Brasil, reclamando de Hollywood, da velhice, da crítica e até de seus filmes... Em entrevista a Bruno Lester, da International Feature Agency, nega que seja um "intelectual": "Não me interesso por livros complicados". Allen comenta ainda o lado trágico de "Cassandra", em que Ewan McGregor e Colin Farrell vivem irmãos endividados que recebem proposta para cometer um crime.

Henny Ray Abrams/AP
Cineasta Woody Allen diz que gosta é de fazer drama a jornal francês
Cineasta Woody Allen lança "O Sonho de Cassandra" e diz que prefere três de seus filmes

PERGUNTA - Do que trata "O Sonho de Cassandra"?
WOODY ALLEN - É simplesmente a história de alguns jovens muito simpáticos que se envolvem numa situação trágica, em função de suas fraquezas e ambições. A intenção deles é boa. Eles foram educados com decência, mas os acontecimentos e seus próprios atos os conduzem a um final trágico.

PERGUNTA - Como "Crimes e Pecados", é sobre morte e culpa.
ALLEN - Sempre me interessei pelo assassinato e pelo lado sombrio do drama e da tragédia. O assassinato é uma das ferramentas que dramaturgos e cineastas vêm usando há séculos para elucidar o que querem mostrar, quer fossem tragédias gregas, Shakespeare ou, mais adiante, os suicídios nas peças de Arthur Miller. Tirar a vida é um ato muito dramático e que me interessa muitíssimo.

PERGUNTA - Fazia algum tempo que você não criava um drama.
ALLEN - Acontece que meus pontos fortes mais evidentes sempre foram cômicos, mas eu sempre quis ser um escritor trágico -escritor de materiais trágicos. Finalmente, agora que estou ficando mais velho, estou tendo a chance de fazê-lo.

PERGUNTA - Você disse uma vez que a vida é "uma experiência bastante trágica".
ALLEN - Sempre senti que a vida é uma confusão muito grande. Tenho uma visão sombria e pessimista da vida e da fé do homem, da condição humana. Mas acho que há alguns oásis extremamente divertidos no meio dessa miragem. Há momentos de prazer e momentos que são divertidos, mas, basicamente, a vida é trágica.

PERGUNTA - Por que você deixou de fazer filmes nos EUA?
ALLEN - É mais fácil conseguir financiamento na Europa. Me dão mais liberdade, porque se respeita o artista mais do que nos EUA. Quando estúdios de Hollywood financiam meus filmes, eles interferem muito. Na Europa, me deixam fazer o que eu quiser. Além disso, aqui eu consigo fazer filmes a um custo mais baixo, e eles não ficam parecendo filmes feitos com pequeno orçamento.

PERGUNTA - "O Sonho de Cassandra" foi recebido com frieza em Veneza, em setembro do ano passado. Você lê as críticas de seus filmes?
ALLEN - Não o faço há 30 anos. Elas não me ajudam. Também nunca assisto a documentários ou leio artigos a meu respeito, porque representam imagens de mim que não reconheço. Não fiz nada de diferente em "O Sonho de Cassandra" do que fiz em outros filmes anteriores.

PERGUNTA - Todo ano há um novo filme de Woody Allen. Como se explica você ser tão produtivo?
ALLEN - É o que faço e tenho bastante tempo livre. Tenho metade do ano sem nada para fazer. Quando termino um filme, fico parado em meu apartamento, caminho pelas ruas, e então tenho uma idéia e penso: "Meu Deus, isso vai ser um outro "Cidadão Kane'!". Começo a escrever e, em pouco tempo, estou com um roteiro. É claro que, quando o resultado está ali, não é nenhum "Kane".

PERGUNTA - Você já recebeu 21 indicações e três Oscars (roteiro e direção de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" e roteiro de "Hannah e Suas Irmãs"). O que está faltando? Você pensa em se aposentar algum dia?
ALLEN - Enquanto puder continuar a fazer filmes, não vejo razão para não fazê-los. O que mais deveria fazer? Gosto de trabalhar. Sinto prazer em escrever, é meu hobby.

PERGUNTA - E sua saúde é boa.
ALLEN - Nunca estive no hospital; ainda sou ativo. Tenho bons genes. Minha mãe chegou aos 98 anos; meu pai, aos 100. Mas envelhecer é uma coisa terrível. Minha vista já não é o que era, perdi um pouco da audição, a comida não tem o mesmo gosto. Não ganhei sabedoria nenhuma. Não há nada de bom em envelhecer. Você simplesmente deteriora e morre.

PERGUNTA - É mais fácil escrever comédias do que dramas?
ALLEN - Sei mais sobre a comédia, então ela parece vir à tona a todo momento. É claro que quem escreve comédia pensa que a verdadeira essência do mundo está nas mãos dos escritores de dramas sérios. E não há nada que os autores de dramas sérios gostariam mais do que escrever comédias.

PERGUNTA - Por que você não anda atuando tanto quanto antes?
ALLEN - Eu atuo apenas quando acho que sou a pessoa perfeita para o papel. Não sou realmente um ator. Sou muito, muito limitado. Sou capaz de dizer falas espirituosas curtas, e isso é divertido. Consigo representar o tipo de personagem nova-iorquino neurótico que se assemelha ao que sou na vida real.

PERGUNTA - Quando passa algum tempo sem atuar, sente falta disso?
ALLEN - Não. Não me chatearia se eu nunca mais voltasse a atuar. Não ligo. Acho difícil avaliar minha própria performance quando estou na sala de edição. Quase sempre me odeio. É tão constrangedor ver sua imagem na tela grande, agindo como uma pessoa tola. Então, minha tendência é jogar fora muitas coisas que faço, enquanto outras pessoas dizem: "Oh, não tire isso do filme, isso é engraçado". Então, o que você vê na tela -acredite se quiser- é a destilação do que eu consegui fazer de melhor. Portanto, você pode imaginar o que vai parar na máquina de picar papel!

PERGUNTA - Por que você não deixa seus atores lerem o roteiro inteiro?
ALLEN - Constatei que, se eles não sabem o que está acontecendo, não representam o resultado de suas ações. Eles não atuam sabendo para onde vai o roteiro -atuam de maneira muito espontânea, porque não têm certeza do que está acontecendo. E, de fato, os personagens não devem saber o que está acontecendo.

PERGUNTA - Você é conhecido por não dar muita direção.
ALLEN - Não gosto de sobrecarregar atores com muita conversa, análise e direção. Contrato as melhores pessoas, e então saio do caminho delas. Dou liberdade enorme aos atores.

PERGUNTA - "Vicky Cristina..." é estrelado por Scarlett Johansson. É o terceiro filme que fazem juntos. O que há de especial nela?
ALLEN - Ela tem tudo: é linda, sexy, inteligente, divertida, espirituosa e boa para se trabalhar. Gosto de tudo nela. Se ela mantiver a cabeça no lugar nesse campo de trabalho maluco, o futuro será dela.

PERGUNTA - Como você se sente com a história de ela ser descrita como sua musa?
ALLEN - Fico grato quando a chamam de minha musa, mas não é verdade. Com Diane Keaton, foi diferente. Fizemos oito ou nove filmes e tínhamos uma ligação especial. Mas gosto de trabalhar com Scarlett.

PERGUNTA - Você fica nervoso durante as filmagens?
ALLEN - Nunca fico nervoso quando estou escrevendo ou dirigindo, mas o pânico se instala no momento da montagem, quando você vê tudo o que fez. É um banho de água fria.

PERGUNTA - Você não costuma ficar satisfeito com os resultados?
ALLEN - Não. Quando está filmando, você sempre pensa que está fazendo história, e, quando termina, você diz: "Meu Deus, o que eu fiz?". Sempre pensei que tenho um pouco de talento e muita sorte.

PERGUNTA - De quais filmes seus você se orgulha mais?
ALLEN - Tenho três dos 39 filmes que fiz: "Match Point", "A Rosa Púrpura do Cairo" e "Maridos e Esposas". Todos os outros, eu gostaria de refazer.

PERGUNTA - Alguma vez você já ficou tão decepcionado com um filme que não queria que estreasse?
ALLEN - Fiquei muito decepcionado com "Manhattan". Prometi ao estúdio que, se não o lançasse, eu faria o filme seguinte de graça. Mas o estúdio se recusou, e o filme teve bom desempenho. Com "Setembro", foi o mesmo. Disse ao estúdio que queria refilmar tudo.

PERGUNTA - Você é admirado por outros cineastas. Você enxerga a sua influência no trabalho deles?
ALLEN - Nunca senti que influenciei ninguém. Não quero que isso soe como falsa modéstia, mas sempre pude sentir a influência de meus contemporâneos -Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Robert Altman, Steven Spielberg- e nunca vi minha influência sobre ninguém.

PERGUNTA - Quem o inspirou mais?
ALLEN - Provavelmente os comediantes Groucho Marx e Bob Hope.

Tradução de Clara Allain

9.6.08

Fragmentos sobre Humanização na Arte e Cultura.


“No tic, tac do meu coração, marca o compasso do meu grande amor. Na alegria bate muito forte, na tristeza bate fraco por que sente dor...” (Alcir Pires Vermelho e Valfrido Silva- escutada no espetáculo ‘As quatro chaves’ grupo Vento Forte de São Paulo)


Nosso coração bate forte e fraco dependendo da situação a que está exposto, sentido figurado que damos para quando nosso ritmo cardíaco aumenta ou diminui, se a adrenalina acelera ou não os batimentos. Usamos o bater forte ou fraco para as situações emocionais, quando vemos por exemplo a pessoa que gostamos chegar perto da gente, e assim se vai. Uso aqui para dizer que o meu coração bate forte pela arte, mesmo conhecendo muito pouco do fazer artístico, do fazer teatro e do trabalhar com cultura, pelo pouco que sinto meu coração bate forte.
Neste ultimo mês assisti inúmeros espetáculos teatrais, principalmente devido ao Palco Giratório do SESC/RS. Grandes nomes do cenário nacional estiveram pelos palcos: Cacá Carvalho (O homem provisório – direção, poltrona escura – atuação) , Sérgio de Carvalho (Direção O Circulo de Giz Caucasiano), Ilo Krugli (Atuação e direção nas Quatro Chaves), Antunes Filho (Direção Prét-à-Porter), Hugo Rodas (Adubo). Muitos espetáculos magníficos em sua forma e na atuação: Adubo: ou a sutil arte de escoar pelo ralo (Confraria Teatral Adubo/Tucan – Brasília), Cachorro (Teatro Independente – Rio de Janeiro), A Gaivota – alguns rascunhos (Piollin – João Pessoa), Quiprocó (Miotará – Rio de Janeiro). Também diversos espetáculos de grupos aqui do estado: Cia. Stravaganza, Oigalê, Cia. do Giro, Deposito de Teatro.
Todos estes espetáculos e conversas realizadas com os atores e diretores me levou a me questionar sobre algumas coisas: meu processo de atuação e de criação, em pare me colocando em crise enquanto Ser-Ator, mas sobretudo me fez pensar na cultura e na função da cultura. Como diria Alexandre Vargas, do grupo Falos & Stercus, professor meu no CPTA (Centro de Pesquisa Teatral do Ator), questionando sobre o que, ou com que saímos de cada espetáculo, de cada conversa feita, “nos sensibilizamos com um atuação no palco, mas nos sensibilizamos quando saímos para a rua e vemos as pessoas?”.
É muito fácil nos sensibilizar com uma peça ou um show musical, mas não nos sensibilizamos com a vida que levamos, com as relações que estabelecemos ou não estabelecemos. Precisamos redescobrir o cuidado e a humanização, o ser humano que habita em cada um de nós. Paulo Freire já nos falava disso quando dizia:

“Uma das questões centrais com que temos de lidar é a promoção de posturas rebeldes em posturas revolucionárias que nos engajam no processo radical de transformação do mundo. A rebeldia é o ponto de partida indispensável, é deflagração da justa ira, mas não é suficiente. A rebeldia enquanto denúncia precisa se alongar até uma posição mais radical e crítica, a revolucionária, fundamentalmente anunciadora. A mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação desumanizante, e o anúncio de sua superação; no fundo, o nosso sonho”[1]


Os nossos sonhos, sonhos de humanização, isso só é possível quando começarmos a lutar contra a sociedade opressora e desumanizante, onde não se tem, e não temos cuidado um com o outro. Não é uma simples ação este processo "Nosso desafio é organizar o procedimento utópico sem sufocar a capacidade utópica (...). Para que meu sonho seja não apenas utopia, eu preciso agir. Se o sonho se aproxima dos sonhadores é porque eles se organizaram, eles agiram com o sonho na mão”.[2] Acreditar que é possível já é meio caminho andado.
Mas antes de colocar os sonhos em prática o processo que devíamos desenvolver é o de resgate do cuidado, pois é do cuidado que nasce o homem novo e a mulher nova.

A categoria “cuidado” se mostrou chave decifradora da essência humana. O ser humano possui transcendência e por isso viola todos os tabus, ultrapassa todas as barreiras e se contenta apenas com o infinito. Ele possui algo de Júpiter dentro de si; não sem razão recebeu dele o espírito. Sem o cuidado que resgata a dignidade da humanidade condenada à exclusão, não se inaugurará um novo paradigma de convivência. O cuidado faz surgir o ser humano complexo, sensível, solidário, cordial, e conectado com tudo e com todos no universo. Sem o cuidado o humano se faria inumano.[3]

Qual processo iria nos humanizar mais, fazer com que nos cuidássemos mais se quando vamos a um espetáculo nos sensibilizamos, mas fora dele é difícil ficarmos pasmos com a realidade em que vivemos? Não sabemos, e até é interessante não saber a resposta, pois se soubéssemos a resposta ainda assim estaríamos do mesmo jeito que estamos, sem fazer nada. Uma prática humanizadora, acredito eu, inicia-se nas relações que estabelecemos com o mundo e com as pessoas.

Só nós humanos podemos sentar-nos à mesa com o amigo frustrado, colocar-lhe a mão no ombro, tomar com ele um copo de cerveja e trazer-lhe consolação e esperança. Construiu o mundo a partir de laços afetivos. Esses laços tornam as pessoas e as situações preciosas, portadoras de valor. Preocupamo-nos com elas. Tomamos tempo para dedicar-nos a elas. Sentimos responsabilidade pelo laço que cresceu entre nós e os outros. A categoria cuidado recolhe todo esse modo de ser. Mostra como funcionamos enquanto seres humanos, humanos.
Daí se evidencia que o dado originário não é o logos, a razão e as estruturas de compreensão, mas o pathos, o sentimento, a capacidade de simpatia e empatia, a dedicação, o cuidado e a comunhão com o diferente. Tudo começa com o sentimento. É o sentimento que nos faz sensíveis ao que está à nossa volta, que nos faz desgostar. É o sentimento que nos une às coisas e nos envolve com as pessoas. É o sentimento que produz encantamento face à grandeza dos céus, suscita veneração diante da complexidade da Mãe-Terra e alimenta enternecimento face à fragilidade de um recém-nascido.
[4]

Acredito na sensibilização das pessoas, sensibilização com o mundo, com os outros. É por isso que acredito que a cultura e a arte tem uma função social e política muito importante a cumprir. Não querendo dizer que são as únicas a fazer este papel, não, a escola é importante, a família é importante, todos os mecanismos e as relações com o mundo e organismos são importante no processo de humanização. Percebo que na arte e na cultura esta sensibilização pode ser tocada mais facilmente, mas devemos trabalhar com ela depois, fazer a função social e política é dialogar com os espectadores, com o publico, é discutir, conversar, estabelecer relações afetivas após cada espetáculo, cada trabalho. E também levar a cultura aquelas pessoas que não tem acesso a cultura, aqueles e aquelas que nunca foram a um teatro, a uma casa de espetáculos, que nunca assistiram uma peça, uma encenação. Descentralizar a cultura que fazemos. Freire tem uma frase que sintetiza este parágrafo: O diálogo é o encontro amoroso dos seres humanos, que mediatizados pelo mundo, o pronunciam, isto é, o transformam e transformando-o, o humanizam para a humanização de todos.
Humanizar e cuidar, estão intrinsecamente, ligados à cultura e as artes. No espetáculo “Quatro Chaves” do grupo Vento Forte, os atores e atrizes pediam para o publico quais eram seus desejos, quais seus sonhos, e o meu foi o de humanizar as relações através da arte. Desejo complexo mas que com o pouquinho que cada um faz pode se tornar realidade. Mas um pouquinho conscientes do trabalho que desenvolvemos para a humanização e o cuidado.
Fico por aqui nestes breves fragmentos sobre a arte, a cultura, a educação e o humanizar.
Elisandro Rodrigues
Teorizando
Junho de 2008

[1] FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade e outros escritos. 10.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. (pg. 89)
[2] FREIRE, Paulo e NOGUEIRA, Adriano. Que fazer: Teoria e Prática em Educação Popular. 3.ed. Rio de Janeiro: Vozes , 1991. pg. 43-44.
[3] BOFF, Leonardo. Saber cuidar: Ética do Humano, Compaixão pela Terra. 7.Ed. Rio de Janeiro:Vozes, 2001. p. 4
[4] Ética e Humanidade. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/boff/boff_eticahumano.html. Acesso em 24 de outubro de 2006.
Onde estará meu amor....
“No tic, tac do meu coração, marca o compasso do meu grande amor. Na alegria bate muito forte, na tristeza bate fraco por que sente dor...” (Alcir Pires Vermelho e Valfrido Silva)
O amor. A paixão. Os namorados, os enamorados. O dia dos namorados se aproxima, para alguns a data é puro mercantilismo da paixão, onde ficamos condicionados a comprar um presente para a pessoa que está repartindo um pedaço de sua vida conosco. Mas, para outros é data de celebrar a paixão, de dar presentes, flores, bombons, jantar a luz de vela, isso é claro para os mais apaixonados, que ainda colocam a criatividade para funcionar e criam histórias, contos, atividades, cada dia uma coisa nova, para todo dia conquistar a mesma pessoa.
A paixão deve ser isso, uma conquista do coração da pessoa amada todo dia, toda hora, todo minuto, todo segundo. Infelizmente, a maioria das relações, não são assim. Falta a magia dos corações apaixonados, por comodidade muitas vezes, ou simplesmente por vivermos em um mundo superficial e artificial que as relações acabam se encaminhando para o mesmo infeliz destino das outras relações que se estabelecem no dia a dia.
Somos assim, é difícil ser coerente e congruente com o que gostaríamos que fosse nossa vida, nossas paixões. Difícil viver o que queremos em um mundo fragmentado e mercantilista. Ultimamente venho refletindo sobre isso, e me vejo caindo nas contradições de sempre, pensando em viver algo e vivendo algo totalmente diferente. No dia dos namorados chegando gostaria de viver um amor mais verdadeiro, mais real, deixar-se levar por este amor, mas onde está o amor? Onde está o meu amor? Chico César diria que está dentro de nós. Acredito que sim, basta vermos melhor ele, olharmos para dentro de nós. Continuo ainda na procura deste meu amor, em mim, e em outra pessoa, não a alma gêmea, o outro chinelo perdido, a outra metade da laranja, mas sim aquela que ainda esteja atrás do seu amor, que pulsa dentro do seu coração “no compasso de um grande amor...”
Como esta noite findará
E o sol então rebrilhará
Estou pensando em você...
Onde estará o meu amor ?
Será que vela como eu ?
Será que chama como eu ?
Será que pergunta por mim ?
Onde estará o meu amor ?
Se a voz da noite responder
Onde estou eu, onde está você
Estamos cá dentro de nós
Sós...
Se a voz da noite silenciar
Raio de sol vai me levar
Raio de sol vai lhe trazer
Onde estará o meu amor ?
(Chico César – Onde estará meu amor)
Elisandro Rodrigues
Se perguntando
Junho de 2008

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento