17.10.09

Ame Ela




“Há um nome Levado no Vento. Palavra. Pequeno rumor entre a eternidade e [o momento.” (Cecília Meireles)
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Es[voa]çando no tempo vai o seu nome. No tempo de minha memória vibrátil. Assim pensava o menino dos botões ao lembrar dos catagiros da menina. Menina que com um corpo de liberdade e de res[ins]piração – “só enquanto eu respirar..” – levou o menino ao gozo muitas vezes. Corpo onde o tato fez caminho, onda a língua lambu[Go]zou de prazer. Dança dos corpos no vento do amor. Nas funduras e alturas da alma o gosto de chocolate go[la]tejando num [re]puxo de brincar abrindo-se ao êxtase e ao sentir a beleza escondida nos pequenos gestos da pele ao capturar fotogramas musicais das gotas de suor.
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Na escuta da reza a saudade e a vontade de ver-te a prese[ausência]nça-au[presença]sência de habitar no corpo desejante da menina do catagozos.
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Cantigas de roda o vento me traz. Mosaico de sons e de palavras que se formam na tempestade que aduba os jardins. A alegria de florir na saliva da menina. A alegria de abrir-se nas pernas da menina. A alegria de partilhar nos fluidos corporais poemas sem palavras sem sons sem vozes poemas de silên[ausênciapresença]cio.
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No bolso da alma e do corpo botões. No bolso da calça uma bicicleta que leva ao vento recados e palavras sem[com]sentido através dos botões do [in]vento. Voam[am] as raízes da árvore do menino. Entrela[bra]çam-se nas asas de um sonho de estranhe[bonite]za vivido por essas crianças.


Elisandro Rodrigues

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento