15.3.09

Saudades do que não foi.


Sentado em um bar com um cigarro no canto da boca e um copo de cerveja pelo fim repassava meu dia. Reunião pela tarde. Visita a casa dela a tardinha – no terraço vendo as nuvens e as estrelas a noite, um ‘frissant’ para embriagar os corpos e soltar as línguas e as mãos. Tomar sopa sentados no chão da sala vazia. Depois sair com amigos cerveja e mais cerveja. E agora no final da noite, na verdade amanhecer do dia, estou sentado um copo de cerveja pelo final na mesa ao meu lado uma menina que mal conheço e que irá esquentar meu corpo neste final de noite fria. A vida é assim um roda gigante que gira sem parar. Um balanço que nos embala rumo a um futuro incerto nos levando a sentir saudade do que não foi.

Elisandro Rodrigues

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento