11.3.09

Perdi minha camiseta.


Hoje perdi minha camiseta. Só me dei conta no final do dia. Hoje cedo saí de casa com ele pendurado na minha bolsa. Perdi minha camiseta hoje. Era uma camiseta velha. Tinha comprado num brechó, era listrada e cinza com marrom. Perdi minha camiseta. Tentei refazer o percurso mentalmente para descobrir onde havia deixado. Não consegui. Era listrada cinza com marrom. Será que com ela se foi o cinza da minha vida? Hoje o céu estava cinza, faz dias que a previsão anuncia chuva e justo num dia cinza perco minha camiseta cinza. Será que com ela perco o cinza que ia carregado no meu corpo. Mas o céu ainda permanece cinza. Hoje perdi minha camiseta. Pensava em você e perdi o cinza da minha vida.


Elisandro Rodrigues

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento