31.3.09

FARRA de TEATRO


Cinco dias de ensaio. Quatro horas embaixo do sol de 30º. Um domingo lindo. Gasômetro cheio. Cenas que falam do cotidiano, da luta, da exploração, das desigualdades, do amor e da felicidade. Várias pessoas emocionadas. Uma música cantada olhando para os olhos – 'E cada verso meu será prá te dizer que eu sei que vou te amar' – uma rosa branca e um sorriso de alegria e paixão. Sentimentos que brotam do coração e da alma. Pessoas que há muito tempo não encontrávamos. Pessoas que nos 'abaçaiamos' e apaixonamos. Mistura de sentimento, suor, calor, alegria, paixão, arte, festa. Mistura essa que dá uma FARRA de TEATRO.

Eu sei que vou te amar (Tom Jobim)

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

Solidão (Alceu Valença)

A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão é fera,
É amiga das horas,
É prima-irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.
A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão é fera,
É amiga das horas,
É prima-irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.


Elisandro Rodrigues
Fotos de Kira, mais em http://picasaweb.google.com.br/kiranfoto/Farra_2009#

19.3.09

O Tempo...


Uma música insiste em permanecer na minha cabeça. Não consigo identificar onde a escutei, mas ela me lembra você. Lembro o tempo ainda não tido, o dia que poderá vir. O tempo perdido com a eternidade da espera me põe em movimento contrário ao do futuro. O branco do futuro pinto com tintas coloridas – arco-íris; flores; sons; vento; mar....pinto a eternidade no vazio do futuro que vem. No móbile preso na varanda vejo uma menina em seu balanço. O tempo vai e vem como a menina que se balança. Os cabelos ao vento o sorriso no rosto e a flor na orelha. Passa tempo devagar na minha memória a imagem da menina que se balança fica eterna até o seu encontro.

Elisandro Rodrigues


O Tempo – Móveis Coloniais de Acaju

a gente se deu tão bem
que o tempo sentiu inveja
ele ficou zangado e decidiu
que era melhor ser mais veloz e passar rápido pra mim
parece que até jantei com toda família
e sei que seu avô gosta de discutir
e sua avó gosta de ouvir você dizer que vai fazer

o tempo engatinhar
do jeito que eu sempre quis
se não for devagar
que ao menos seja eterno assim

espero dia que vem
pra ver se te vejo e faço
tempo esperar como esperei
eternidade se passar nos meus segundos sem você
agora eu já nem sei se hoje foi anteontem
me perdi lembrando o teu olhar
o meu futuro é esperar pelo presente de fazer

o tempo engatinhar
do jeito que eu sempre quis
distante é devagar
perto passa bem depressa assim

pra mim
pra mim

se o tempo se abrir, talvez
entenda a razão de ser
de não querer sentar pra discutir
de fazer birra toda a vez que peço tempo pra me ouvir
a gente se deu tão bem
que o tempo sentiu inveja
ele ficou zangado e decidiu
que era melhor ser mais veloz e passar rápido pra mim

eu que nunca discuti o amor não vejo como me render
ah!
será que o tempo tem tempo pra amar ou só me quer tão só?
e então se tudo passa em branco eu vou pesar
a cor da minha angustia e no olhar
saber que o tempo vai ter que esperar

o tempo engatinhar
do jeito que eu sempre quis
se não for devagar
que ao menos seja eterno assim

15.3.09

Saudades do que não foi.


Sentado em um bar com um cigarro no canto da boca e um copo de cerveja pelo fim repassava meu dia. Reunião pela tarde. Visita a casa dela a tardinha – no terraço vendo as nuvens e as estrelas a noite, um ‘frissant’ para embriagar os corpos e soltar as línguas e as mãos. Tomar sopa sentados no chão da sala vazia. Depois sair com amigos cerveja e mais cerveja. E agora no final da noite, na verdade amanhecer do dia, estou sentado um copo de cerveja pelo final na mesa ao meu lado uma menina que mal conheço e que irá esquentar meu corpo neste final de noite fria. A vida é assim um roda gigante que gira sem parar. Um balanço que nos embala rumo a um futuro incerto nos levando a sentir saudade do que não foi.

Elisandro Rodrigues

14.3.09

Pontinha de saudade de você.

Meu coração estava guardado no bolso da frente de meu casaco. Às vezes colocava no bolso de traz da calça ou no da frente daquela calça colorida. Ultimamente vinha deixando ele guardado dentro da caixinha com recortes e colagens que tem no quarto. Deixava lá para não me incomodar com ele. Mas justo num dia em que saio sem guarda-chuva, chove, justo no dia em que saio sem casaco, faz frio, justo quando saio de casa esperando brisas leves vem um vendaval. Mas justo no dia em que saio com o coração no lugar certo, justo nesse dia, passa uma menina com uma flor na orelha e o rouba de mim. Depois daquela curva sem sentido ela ficou de me devolver. Amanhã talvez eu encontre a menina com flor na orelha, com bolinhas de sabão no corpo. Quem sabe ela entrega meu coração para guardá-lo novamente onde se deve....Se ela não o devolver terei de rever o lugar onde ele fica, quem sabe até fique melhor no bolso da frente da blusa dela.



Elisandro Rodrigues

12.3.09

Borboletas dançando bambolês



Ela na mesa ao lado, com ar e pose de intelectual: cigarro acesso na boca, um copo de uísque e dois livros em cima da mesa. Eu do outro a encarava: uma cerveja pela metade, vários saques de maionese e ‘catchup’ e um gibi em cima da mesa. Num papel de guardanapo podiam se ler alguns rabiscos escritos por mim, neles diziam o seguinte:

‘Sempre procurei uma pessoa para amar! Na clandestinidade grito meu amor. Abro o peito aos quatro ventos, aos mil mundos. Grito para o vento, na verdade sussurro para que em brisa minhas palavras se transformem e cheguem até você. Por que sempre procurei alguém para amar? Agora achei alguém para admirar e gostar? Não sei ao certo e na clandestinidade eu fico com um copo de cerveja meio vazio e no fundo da garrafa pétalas de flores em um pedaço de papel – ou flores de papel em um pedaço de pétala...’

Do copo e do guardanapo saem borboletas dançando bambolês.



Elisandro Rodrigues

11.3.09

Perdi minha camiseta.


Hoje perdi minha camiseta. Só me dei conta no final do dia. Hoje cedo saí de casa com ele pendurado na minha bolsa. Perdi minha camiseta hoje. Era uma camiseta velha. Tinha comprado num brechó, era listrada e cinza com marrom. Perdi minha camiseta. Tentei refazer o percurso mentalmente para descobrir onde havia deixado. Não consegui. Era listrada cinza com marrom. Será que com ela se foi o cinza da minha vida? Hoje o céu estava cinza, faz dias que a previsão anuncia chuva e justo num dia cinza perco minha camiseta cinza. Será que com ela perco o cinza que ia carregado no meu corpo. Mas o céu ainda permanece cinza. Hoje perdi minha camiseta. Pensava em você e perdi o cinza da minha vida.


Elisandro Rodrigues

10.3.09

Como conquisto seu coração?


Como eu conquisto seu coração?
Com flores?
Com sabores?
Quem sabe alfajores?
Com batuque e tambores?

Como conquisto seu coração?
Cozinhando macarrão?
Mostrando que sei limpar e lavar?
Te convidando para passear?
Ou quem sabe até nadar?

Como conquisto seu coração?
Que tal um cinema?
Ou uma cerveja?
Se desejar um café?
É na verdade não sei como se faz para conquistar seu coração.
MAs quem sabe crie um balão
e pendure num cordão
no meio da rua para mostrar minha afeição.

Elisandro Rodrigues

4.3.09

Reflexos de Zó


Zó olhava pela janela do ônibus e através do vidro via seu reflexo no seu reflexo seus olhos nos seus olhos o mundo do outro lado. Lá fora duas imagens de um futuro possível se mostravam através do reflexo dos seus olhos: Uma roda de ciranda no gramado verde e um arco-íris sobre um prédio grande e feio, dando a estas imagens juntas um quadro de um desejo possível do futuro. Zó passava de ônibus na frente do Hospital São Pedro e no reflexo do olho a dor transparecia.



45º O dia em que a terra parou


Ninguém soube desse dia,
por que nada aconteceu nesse dia,
que nada acontecia.
Esse dia veio de repente
De um jeito que nem o corpo sente.
Esse dia veio ao mundo,
num mistério profundo,
que acabou todo mundo.
Nesse dia nada podia fazer,
pois as coisas não iam acontecer.
Nesse dia ninguém precisava falar
por que ninguém iria escutar.
Nesse dia ninguém precisava escrever
por que ninguém poderia ler
Esse era o dia que tudo acabou
E ninguém mais gozou

(Deolindo de Campos Neto - Centro de Convivência Providência Belo Horizonte)

Elisandro Rodrigues

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento