18.10.10

Zó, as coisas que são frágeis, Lou...


Sentado na beira da calçada Zó observava a multidão passar no alto de suas fragilidades. Pensava ele que as pessoas eram muito frágeis com seus medos, suas ilusões. Lembrou de uma frase lida em algum pedaço de papel qualquer "As pessoas se despedaçam tão facilmente, sonhos e corações também."(Neil Gaiman - Coisas Frágeis).

Zó sabia que aquelas pessoas que caminhavam com seus semblantes sérios, taciturnas, carregavam grandes fardos. Não estranhava que as vezes, no meio daquela multidão, alguns caminhassem chorando.

Naquela aglomeração uma destacou-se nos seus olhos por um corolidodetristezaaomesmotempofeliz que saltitava entre vitrines olhando uma boniteza artificial e pessoas que ela parava na rua. Não entendendo o que se passava e pela sua curiosidade gritante saio do conforto de seu assento para olhar mais de perto aquele ser.

Chegando perto Zó viu que se tratava de alguém como ele. Sem querer, mais querendo, ele esbarrou naquele ser corolidodetristezaaomesmotempofeliz, Ela, pelo que Ele se surpreendeu foi logo dizendo:

- Aqui sou eu que estou pedindo vai achar outro lugar.

Sem entender nada falou: - Não quero pedir nada, só fiquei curioso por você. Ela o olhou estranhamente com uma delicadeza e uma ternura de criançaevelho.

- Sendo asssim, muito prazer. Pode me chamar de Lou....de Loucura.

Zó falou seu nome e voltou para seu canto de observação. Ficou olhando a menina Loucura caminhar por entre a multidão e vitrines.


Elisandro Rodrigues

(Depois de algum tempo um ato de criação...)

Nenhum comentário:

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento