26.10.10

Vento Mar...


Vento Mar e botões por onde passo. Vento um Mar de lágrimas no caminho para casa. Vento pensamentos de todas as ordens. Vento meu amor para longe para analisar a situação em que estou.


Sei que não sou o melhor dos namorados, sei que erro um monte e alimento minhas loucuras cotidianas feito furacão. Mas faço esse vendaval para ficar mais perto de você, para sentir que existe ainda. Vento tão forte que movo as águas de um Mar calmo fazendo as ondas sacudir os barcos dos pescadores.


Sou ciumento, possessivo, egoísta e medroso, eu sei que sou, e sabes que sou, e sabes como és também, osso duro de roer. O que quero lhe dizer é bem simples, como falei no telefone. Também estou cansado, exausto, rua após a enxurrada. E sei que estás assim também, proponho algo bem simples, isso se queres levar adiante nossa relação, se me amas ao ponto de construir tempestades e remexer o oceano profundo.


Proponho que arrumamos a casa, limpemos a lama, erguemos os móveis, pintamos as paredes, rabiscamos frases nos rodapés da casa. Proponho algo simples, e digo que tentarei me esforçar ao máximo para ajudar nessa construção, mas tens que fazer a sua parte, e temos que ambos entender que as vezes cansamos e precisamos deitar na parte ainda não pintada imaginando como ficara a casa quando estiver pronta. Proponho a simples construção, o deixar os pensamentos e as ideias ciumentaspossessivasloucas só para a gente, e que elas sejam lavadas pelo Mar e levadas pelo Vento.


Proponho coisas simples, como simples deve ser o amor, como simples é o Mar e o Vento. Proponho que deixamos de lado toda a ladainha dos deuses e deusas dos santos e santas e arrisquemos a orar para Deuses pagãos e mortos, nos arrisquemos a ajoelhar em frente a Deuses que acreditamos vivos. Que lancemos oferendas ao Mar e flores ao Vento. Tudo para pactuar o que pode ser límpido como o azulesverdeado do Mar e transparente como a brisa da manhã de primavera.


Proponho que nos abramos para sentir a doçura da água do Mar no nosso corpo, sentir a leveza do abraço do Vento.


É uma proposta ousada mas simples, que só quem tem coração leve e puro pode embarcar nela para navegar nesse Mar de bonitezas levados por esse Vento intempestivo.


Se queres arriscar a viver uma coisa simples regada pelo Vento e espalhamada como o Mar saberás que achou um parceiro que cansou dessa vidinha nesse mundo de gente de pedra feito máquina a fazer VentoMar artificial . Quero construir a realidade de uma outra utopia, de um outro sentimento e sentido. Quer compartilhar esse mundo comigo?


Só peço uma coisa: desprendimento do que tudo antes se viveu e saída da redoma de vidro azulcoloridoartificial.


Elisandro Rodrigues

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento