5.3.10

Caminhos de Bicicleta

Como era de costume ele chegou mais cedo no ponto de encontro, na verdade o ônibus chegara quinze minutos antes do horário previsto. Ao descer do ônibus ele deu uma olhada em volta e não a encontrou. Mandou uma mensagem para ver onde ela estava, acreditava que ela não viria, mas mesmo assim um fundinho de esperança restava em seu coração. Pegou sua mochila e foi para a primeira cantina tomar um café e afastar o sono.

A mensagem dela chegou alguns minutos depois, quando ele estava tomando seu café dizia “chego em cinco minutos”. Ele terminou o café devagarinho pegou sua mochila e se encaminhou para fora da rodoviária. No meio do caminho viu-a dobrando um corredor em sua direção. Era bonita, mais alta do que esperava, e mais bonita do que esperava vinha com um sorriso nervoso no rosto e com os indicadores num gesto que mais tarde entenderia.

O primeiro contato foi estranho, o abraço meio desajeitado por causa da mochila nas costas, uma intimidade de pessoas que nunca se viram nos olhares. Ela estava tensa e nervosa. Ele tranqüilo na espera do que iria acontecer. Ela conduziu ele para um bar na frente da faculdade, subiram a rua Santa Clara até a General Osório. Ele ia descontraído tentando achar formas de quebrar o gelo e ver no que daria aquele encontro. Subindo a Santa Clara ele parou para descansar em uma praça e ela pensou “e por que não agora”.

Chegou perto dele colocou a mão atrás de sua cabeça e chamou-o para um beijo longo e intenso com gosto de chiclete. Ele ficou sem saber o que fazer e retribuiu o beijo. Depois de quarenta segundos do primeiro beijo ele a beijou novamente com carinho e paixão. E assim seguiram caminhando para um buteco tomar suas primeiras cervejas de muitas.

Elisandro Rodrigues

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento