23.12.06

ÚLTIMO PEDIDO DO ANO: VAMOS ENGRAVIDAR!

“Ao deixar o recinto, Zacarias dá a impressão de ter sido queimado no altar dos incensos. Os fios de cabelo grudando-lhe na testa, a roupa está ensopada de suor, a respiração parece sufoca-lo, a ovelha que devia imolar encontra-se viva a seu lado. No entanto, tem o semblante rejuvenescido. Fiéis e sacerdotes estão intrigados. Querem saber por que tardara tanto e não oferecera o sacrifício da tarde. Ele acaricia o pescoço do animal e tenta explicar. Ao abrir a boca, nenhuma palavra soa. Com o dedo em riste, aponta para o céu. Todos compreendem que tivera uma visão. Procura falar-lhes por sinais; a mímica confusa induz um e outro a julgarem que, pela primeira vez, um homem ficará grávido. Zacarias desiste e, acompanhado pela ovelha, volta para casa.” (Do livro Entre todos os homens de Frei Betto)

Quase no final de sua vida, Zacarias recebe a visita de um anjo e fica sabendo que sua esposa iria ter um filho dele, filho tanto esperado, mas que por condições do tempo e da biologia humana, sua esposa não podia ficar grávida, mas uma chama de esperança se ascende quando Javé lhe concede esta graça tanto esperada. Logo depois disso, uma mulher, camponesa e pobre, recebe a visita de outro anjo, que lhe comunica que ela dará a luz a um menino, e que se chamará Jesus, Deus Liberta. Duas boas novas, duas notícias de esperança.
A vida sempre é tida como esperança, o nascimento sempre é acolhido com alegria, as crianças sempre são a manifestação da vida, do novo que está por vir.
Se eu pudesse fazer um pedido neste Natal, ao Papai Noel, ao Jesus Menino, a Javé, Oxalá, aos santos, e as pessoas, eu pediria que todos os homens e mulheres se engravidassem. Que todos ficassem grávidos de esperança e de loucura. E este vai ser meu pedido neste final de ano: Os Seres Humanos Grávidos de Esperança e Loucura.
Grávidos para todos sentirem a vida se criando, o novo que quer brotar, de esperança por um amanhã e um horizonte mais justo, mais igualitário, mais fraterno, e de loucura para não nos acomodarmos e lutarmos, brigarmos, gritarmos por esta esperança. Loucura para caminhar nas noites de vento e chuva forte, loucura para alegrar as pessoas, as crianças, sem motivos, loucura para sermos mais humanos no cuidar e no amar.
Mas a grande questão é como todos ficaram grávidos? Não sei se existe tantos anjos engravidantes por ai a espalhar loucura e esperança. Mas como Natal é tempo de Magia, acredito que isso possa acontecer. Ficarei mais feliz neste ano que se aproxima, e neste Natal, se isso acontecesse. É o meu único pedido ao transcendente que nos move e nos guia.

Elisandro Rodrigues
Simples mensagem de Natal e Ano Novo, e como diz o poeta, é das coisas simples que brota a magiaDezembro de 2006

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro amigo Louco e poeta, gosto muito das coisas que vc escreve. Aproveito para te desejar um ótimo Natal e que venha 2007 com toda esperença de um novo amanhecer...

Ah, faço coro no seu pedido:
que todos os homens e mulheres se engravidassem. Que todos ficassem grávidos de esperança e de loucura. E este vai ser meu pedido neste final de ano: Os Seres Humanos Grávidos de Esperança e Loucura.
Bjs e abçs

Anônimo disse...

oi guri!
cá estou p ler tua msg...e adorei!
coisas m cairam como uma luva em pleno verão! :)

estou numa fase tipo assim:

É MELHOR SER ALEGRE QUE SER TRISTE A ALEGRIA É A MELHOR COISA QUE EXISTE, É ASSIM COMO UMA LUZ NO CORAÇÃO!

E VIVA AS FUTURAS E FUTUROS GRAVIDOS DE TODO O PLANETA!!

BJO
CARLINHA

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento