O menino tentou mandar beijos e abraços pelo vento. O vento não retornou. Ficou ressentido o menino e sem sentido. Começou a caminhar pela grama verde que cobria o redor de sua árvore. De uma flor brincou de mal me quer bem me quer. Parece que o gozo emudeceu, não de prazer, mas de tristeza. Sem saber o que fazer o menino pensou em fazer algo para se desculpar com a menina dos botões coloridos. Queria movimentar as co[do]res da paixão novamente. Sonhos são como Deuses se deixarmos de acreditar neles eles deixam de existir, pensou o menino.
No meio dos sonhos, das cores, dos livros, dos mosaicos tingidos ele procurou por algo. Achou um pedaço de papel, tintas e linha. Tudo o que precisava. Desceu de sua árvore e se pôs a criar. Correu primeiro pelos campos buscando flores de diferentes cores e duas varinhas que iria precisar. Sentou-se e aquietou a alma. Aquietou a alma e pensou no gosto do gosto da menina. No gosto depois do beijo. No gosto depois do amor. No gosto do toque e do correr pelas ruas e campos com ela. O gosto tomou forma, a forma tomou cor. A cor movimento de cores na des-canção do corpo cancional do menino. (Quanto mais eu espaçava espaço dentro do tempo mais forte o tempo empurrava aquele meu corpo adentro)
Menino terminou sua brincadeira, brincadeira de cores, brincadeira de desculpas sinceras de uma desrazão tola. Desafinou novamente seu ouvido, sua fala, seu corpo. Se abrigou nos olhos curiosos das crianças. Correu pelos campos flutuando ao sabor das palavras sentindo o perfume de capim e das flores acima de sua cabeça tomando altura. Num delírio de seu corpo desejante abriu asas ao horizonte. E na manhã fez canções de tarde e noite buscando sinais de pré[au]sem[ncia]ça na caligrafia do vento encontrou uma brisa. Na brisa um toque suave que lembrou momentos passados e futuros. Se jogou no mar do tempo e do vento com sendo devorado pelo afeto.
Pingos de chuva começaram a cair. Atrás da chuva o beijo. Uma arquitetura de surpresas numa sopa inundada de vida num fragmento de noite de um outro tempo.
O menino correu. Da corrida a pandorga saio do chão. As assas do menino subiram aos céus em forma de arcoiris de desejos e flores. Num céu cinza do tempo de outro dia se borra com tintas e flores e colori riscando os céus. O menino corre pelos campos, pelos cantos do mundo querendo entregar o presente a menina dos botões. Corre sem descansar, corre sem dormir, corre em silêncio num desejo mudo para não significar nada e dar sentido a tudo. Mas o menino não encontra a menina. As flores começam a florescer e dar outras flores na pandorga presente dela. Uma vida borboletiando numa pandorga. Mas o menino segue na esperança do seu arcoiris port[virb]átil.
Sem saber de suas andanças a menina desenha arcoiris, prega botões, constrói tingimentos em pedaços velhos de roupas e folhas das árvores na espera do menino em sua árvore.
Elisandro Rodrigues
Ter (Mauro Luis Iasi)
Queria tê-la
Detê-la
Rête-la
Na tela pintá-la.
Queria tê-la
Para dizer
Tenho
Não como guardada
Em baús ou malas.
Não em pequenas peças
De memória ou saudade.
Queria tê-la
Como ao ar
Que passa livre como o vento
Que meu corpo quer guardar.
Tê-la assim para depois perdê-la.
Tão grande, tê-la aos poucos
Devagar e insaciável.
Tê-la nos olhos
Como uma ave
Que segue seu vôo no céu
E na retina.
Tê-la como a praia
Tem ao mar
Como língua que volta a boca
Depois de beijar.
Queria tê-la
Pra dizer que tenho
Por nada ter para guardar
A não ser a sensação
Pregada na pele
Que você deixa
Depois de amar.