19.5.12

13 Microcontos



# 1
Não reconheci aqueles olhos verdes debaixo das pálpebras com olheiras. Aquele rosto coberto por espessa, fina e desordenada barba. Não me reconheci no espelho.

# 2
Hoje vi um louco gritando na rua. Gritando pelos seus direitos.

Microconto para todos os Mentaleiros.
Viva a Reforma Antimanicomial.

# 3 
Depois de dois dias o Frango a passarinha voa para minha boca.

# 4
-O que é esse desenho?
-Um barconauchuva!

# 5
- No que você está pensando?
- Dois palitos.

# 6
No olho dentro do olho fogem meus sonhos.

# 7
A estupida mosca dança na lâmpada apagada.

# 8
Vento palavras brincando de tempestade.

# 9
No espaço vazio o único som que se escuta é do corpo caindo.

# 10
A vaca ao longe muge e pasta.

# 11
Pelas ruas desertas cambaleante segue o homem bêbado.

# 12
Trago o último gole de uísque e saio do bar para o frio da vida.

# 13
Pela janela que olho sem ver pingo luz.

Elisandro Rodrigues

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento