O fluxo que nasce entre os nossos corpos hoje tem um nome: saudade. A saudade dos corpos juntos. A saudade que pode ser resolvida atravessando uma rua, pegando um ônibus, na ligação ou na mensagem no celular. A saudade aumenta com o tamanho da distância. Nessa lonjura toda a saudade encharcou todo meu corpo e não tem lugar para jorrar. Me faço então esponja para poder absorver toda hora essa saudade que se derrama do meu encharcamento diário.
Para diminuir a vontade de você nos meus braços fiz amizade com o tempo. Assim como o menino de cabelos loiros que cativou a raposa, cativei-me no tempo, e o tempo me cativou. Na espera dos segundos a brincadeira. Na brincadeira um voo que lança a horas, na entrega ao tempo os minutos e dias diminuem aproximando seu corpo e seus lábios dos meus.
No cheiro da chuva que molha a cidade a vontade de compartilhar a noite e o sono ao seu lado. Os ventos que brincam de rodopiar roupas encantam os olhos e perfumam o tempo da brincadeira chamada espera. Nos olhos do coração a poesia que nasce do chão e se esparrama num corpo encarnado fazendo a memoria corporal se ativar: seu tato no meu corpo, seu desejo no meu, o tempo da dança do silêncio – [nas pernas do silêncio dançamos].
Com o tempo brinco, na espera pela brincadeira [com]partilhada com você [voo um pouco mais ao seu encontro].
As flores na mesa nascem todo o dia criando jardins a sua espera...
Elisandro Rodrigues