19.3.07


Aos semeadores de sonhos e de utopias


Força, festa, fonte e fundação :
Povo é mais que a prôa pra nação !
Sangue expande a ponte, a afirmação :
Povo, não a raça da ração !
Poder cantar :
derrubar portões, ladrões e muros !
Poder dançar :
festejar na contramão !
Há de rebentar
sempre nova flor,
sempre novo dia
rebentando amor !
(Povo – Mestre Ambrosio)

Estava pensando o que dizer, neste dia que precede a nossa Calourada, neste dia que precede nossos sonhos e nossa luta. Vinha caminhando para o IPA matutando sobre isso, e em minha mente veio a música acima de Mestre Ambrosio, “Poder cantar...poder dançar...há de rebentar sempre nova flor...”.
Na nossa caminhada, no nosso processo de construção desta Calourada, nos tornamos semeadores, cantadores, dançadores de um novo tempo: Tempo de novas flores, de novos clamores, de novos dias.
O ser semeador e o ato de semear, de plantar esta flor que estamos vendo desabrochar, é um ato de coragem, de ternura e de esperança. Coragem pelo fato de levarmos no peito e nas mãos todo o sofrimento, toda a luta que aparecem na caminhada, mas sem medo de enfrentar o novo. Ternura para poder sorrir e embelezar, de se prazeriar com nossos companheiros e companheiras, dando forças para não desistirmos e nem nos perdemos no meio do caminho, convidando os outros para dançar nas noites de frio, e nos sambar nos dias de sol. E esperança, pois apesar de termos vontade, coragem e ternura, nada fazemos sem a esperança de ver crescer esta flor que estamos plantando, esta flor que é gerada nesta luta, neste chão árido, cheio de pedras e espinhos. Árido por não termos dinheiro, por não termos estrutura, pedras que não nos deixam crescer direito e espinhos que nos sufocam, mas mesmo assim, a esperança de crescer, a esperança de desabrochar, de ver o sol, de ver o céu, de molhar com a chuva que cai, nos faz crescer, nos faz estar aqui e continuarmos a semear, sem medo, o que acreditamos, o que queremos.
O que queremos é dançar na contramão, é festejar a utopia. O que queremos é rebentar os portões, e gritar para todo mundo ouvir que o que acreditamos vale a pena. Vale a pena, perder noites de sono, de perder aula, de perder a paciência, que vale a pena lutar pelos sonhos que acreditamos.
A vocês sonhadores, semeadores, seres de utopia, lancemo-nos a dança, a festa e ao canto que vai ser está Semana da Calourada.


Abraços de brisa, de vento, de chuva e de sol para poder esta flor que está nos nossos corações crescer forte e bela.

Elisandro Rodrigues“Nem vendaval, nem tempestade vão abalar ou sequer incomodar, onde a alegria fez um lar, sempre em festa, como esta, e hoje pra comemorar o doce desabrochar desta rosa...”

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento