21.5.09

Quando a menina passa...


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Quando a menina passa;
No céu nuvens e estrelas conversam;
A lua e o sol brilham juntos;
Na terra flores colorem o caminho;
Pirilampos voam em volta dos cabelos avermelhados da menina;
Dançam e cantam os passarinhos;
Quando a menina passa
Bolinhas de sabão se fazem coloridas;
Cataventos giram de alegria;
O vento sopra como brisa e faz o cabelo dela esvoaçar - e os papéis e pipas voarem;
Papéis se recriam em borboletas e se colorem com o perfume das flores;
Tudo voa;
A alma das pessoas fica leve - abre aspas e me leve nos meus versos que são seus;
Quando a menina passa alguma coisa acontece dentro de mim;
Eu a olho passar me encantando e cantando;
A espiar por entre livros que se fazem portas e janelas;
Vejo a boniteza do mundo quando a menina passa;
Depois que ela se vai
a brincadeira silenciosa toma conta do mundo.
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Elisandro Rodrigues
Imagem do querido ilustrador André Neves - http://confabulandoimagens.blogspot.com/

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Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento