10.12.08

Enquanto a Chuva cai


Se ele pudesse registrar aqueles dois momentos em fotos ou películas de um curta o resultado seria surpreendente. Mesmo não podendo fazer isso ele imaginou como seria o resultado do enquadramento fotográfico – seriam duas imagens:
A primeira imagem seria de uma fotografia de seu quarto-o seu quarto- pegando na imagem sua cama, sua estante com livros a pandorga pendurada próxima a cama. Se o espectador olhasse a foto não acharia nada diferente mas se olhasse atentamente iria reparar no cartão postal em cima da cama. No cartão poderia ser visto um barco ancorada na areia próximo a uma praia. Se pudesse ler o cartão se emocionaria com as palavras de saudade e de amor – mas isso era impossível, aconteceria se tirasse uma foto do verso do cartão.
A outra imagem que compunha em sua mente era a dele mesmo sentado dentro de um ônibus com um livro aberto em suas mãos em uma página marcada por uma pétala de flamboyant. Ele olhando para fora e via a chuva cair sob os carros que passavam apressados no início da manhã. A foto tirada pelo lado de fora mostraria a janela do ônibus com gotas de chuva em uma imagem meio ofuscada daquele homem olhando para a chuva do outro lado do vidro.
A trilha sonora para o curta seria na seqüência: Ele olhando o cartão em cima da cama ao som de “Não deveria se chamar amor” de Paulinho Moska. Para a segunda imagem do ônibus uma seqüência de pedaços das músicas “Estrela” de Vitor Ramil; “Prato do dia” do Teatro Mágico e “Preta” do Cordel de Fogo Encantado – elucidando a chuva que continuava a cair.
Poderíamos escutar estas musicas juntamente com o pensamento dele: 'Busquei encontrar minha alma em muitos lugares fui encontra-lá nos olhos dela. Gira o mundo num catavento. Brilha o mundo nos olhos dela – You´re a part time lover and a full time friend. Nossos caminhos são feitos de nuvem e pedra – às vezes o lugar onde queremos chegar fica exatamente onde estamos, mas precisamos dar uma longa volta para encontrá-lo(Satolep de Vitor Ramil)'.
Após terminar de dizer isso pausadamente enquanto olhava a chuva cair no transito lento da cidade ouviríamos o início da música “Quantas vidas você tem?” do Paulinho Moska juntamente com os créditos que iam aos poucos aparecendo. Antes de terminar os créditos a imagem dela apareceria – uma foto onde ela lê uma carta em meio a um sorriso, percebemos o sorriso apaixonado e o vento na fotografia – é percebemos o vento nas árvores.
No final do curta, depois da imagem desaparecer devagarinho aparecia ele descendo do ônibus e caminhando na chuva fina do mês de dezembro e flores de flamboyant colorindo o chão por onde passa – juntamente com as flores caindo inicia-se a música “Nosso Amor é Filme” do Cordel de Fogo Encantado. A ultima imagem que vemos é a câmera focando em uma flor vermelha com gotas de chuva sobre ela.
Se fosse fotografo ou cineasta essas serias as imagens transpostas de sua mente para a fotografia e vídeo, mas, como não era nenhum dos dois, era apenas um apaixonado em uma quarta-feira, continuou a ler seu livro enquanto a chuva cai-a.



Elisandro Rodrigues

Um comentário:

Anônimo disse...

quem dera meu amor fosse filme. Meu amor além de egoísta, nunca foi feliz para sempre.

Entra[saí]da - Manoel de Barros

Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele. Eu conversava bobagens profundas com sapos, com as águas e com as árvores. Meu avô abastecia a solidão. A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:

O dia está frondoso em borboletas. No amanhecer o sol põe glórias no meu olho. O cinzento da tarde me empobrece. E o rio encosta as margens na minha voz.

Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar. Eu queria que as garças me sonhassem. Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens. Me dei bem.

[...]

1)É nos loucos que grassam luarais; 2)Eu queria crescer pra passarinho; 3) Sapo é um pedaço de chão que pula; 4) Poesia é a infância da língua. Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Siente como Sopla el Viento